terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

O Cravo da Índia

Hoje fui a uma escola secundária fazer uma das coisas de que mais gosto: partilhar ideias e reflexões com jovens. Desta vez contei a história d’O Cravo da Índia ou da aventura de Fernão de Magalhães, de Juan Sebastián Elcano e de muitos outros.

Falei das realizações científicas e tecnológicas portuguesas do século XV. Falei dos descobrimentos como o processo de obter o conhecimento de algo anteriormente desconhecido, de determinar a forma de vencer o medo e navegar mares que não haviam sido navegados antes e fornecer sobre eles informações náuticas precisas.

Falei da natureza laboriosa e organizada do esforço dos portugueses e das dificuldades da descoberta. Falei do modo como os marinheiros e cartógrafos portugueses alteraram a maneira de ver o mundo, de como os portugueses o reinventaram, de como imaginaram o globo de uma forma nova, a forma como o conhecemos hoje.

Falei de como a tolerância relativamente aos outros povos e religiões permitiu o maior legado dos portugueses do século XV: serem capazes de adaptar e enriquecer a herança científica helénica, islâmica e judaica para resolver os problemas da navegação no mar alto. E falei de como, depois, a intolerância da Inquisição e do Estado destruiu as conquistas de quase um século e a liderança científica e tecnológica de Portugal. Falei de como o saber acumulado, a ciência e as tecnologias que os portugueses haviam desenvolvido foram entregues de mão beijada aos navegantes espanhóis, ingleses e holandeses.

E no fim dei por mim a pensar que os navios portugueses que então sulcaram os mares não deixaram uma marca permanente na face da terra, nem mesmo os seus destroços e os mortos que jazem no fundo dos oceanos; que as medições da altura do Sol e dos outros astros não deixaram traços visíveis; que as linhas que dividiram o mundo não existem senão na nossa mente e na nossa imaginação. O ruído do vento, os sons da faina das velas, o ranger da madeira, as vozes dos homens, tudo se foi. 

O imenso legado dos portugueses do século XV está hoje nas estrelas do céu e, ocasionalmente, nas embarcações que navegam cá em baixo com jovens como aqueles com quem hoje falei.

Sem comentários:

Enviar um comentário