sábado, 31 de outubro de 2015

Sou um Pecador

Há uns sete anos li no Diário de Notícias um manifesto contra a minha geração de um investigador em biotecnologia, presumo que jovem.

Segundo ele a minha geração beneficiou, como nenhuma outra antes ou depois, de empregos vitalícios, salários acima das respectivas qualificações e pensões de reforma muito acima das respectivas contribuições; os seus membros chegaram sem mérito nem trabalho a posições que nunca teriam alcançado se a vida pública não tivesse sido politizada pela revolução; e tem "direitos adquiridos" que estão a ser pagos pelos jovens que, sem emprego vitalício nem reforma garantida, são forçadas a trabalhar para sustentar os privilégios das gerações mais velhas.

E o investigador em biotecnologia concluía a sua tese científica dizendo que a excessiva politização da vida pública não é um valor a promover mas um vício a evitar. As sociedades politizadas premeiam a habilidade política e as demonstrações de força na rua. As sociedades despolitizadas premeiam o mérito individual, o trabalho e a iniciativa empresarial. O eventual desinteresse dos jovens pela política partidária é um bom sinal. É um sinal de que a sociedade falhada construída pela geração do 25 de Abril pode ter os dias contados.

Hoje ouvi a fundamentação teológica da tese dos malefícios da politização. Questionado sobre o que Jesus Cristo teria feito nas últimas eleições, um eurodeputado não hesitou na resposta: ter-se-ia abstido!

terça-feira, 28 de julho de 2015

Uma Carta a Garcia



No início de 1993, um pequeno grupo de militares recebeu ordem para negociar, adquirir, e trazer para Portugal o RFA Blue Rover, um small fleet tanker da classe Rover, em fim de vida ao serviço da Marinha do Reino Unido. Foi uma missão atípica, considerada impossível por muitos e cujos detalhes poucos conhecerão. Por isso vale a pena lembrar.

A Marinha Portuguesa estava então sem navio reabastecedor e impossibilitada de cumprir compromissos operacionais internacionais. Precisava urgentemente de substituir o velho e imobilizado São Gabriel, mas não havia verbas orçamentadas para isso. Inesperadamente, os excedentes cambiais resultantes da significativa queda da libra, moeda de referência dos contratos dos equipamentos militares adquiridos no Reino Unido para a Marinha, e o anúncio da venda, quase a preço de sucata, do reabastecedor ligeiro Blue Rover, criaram uma hipótese de solução do problema. Poderia ser o tal navio para dez anos, tempo que se considerava necessário para projectar e construir um novo reabastecedor. Feitas duas vistorias técnicas no final de 1992, o Blue Rover foi considerado útil para a Marinha Portuguesa. Faltava concretizar a sua compra tão rapidamente quanto possível porque o navio ia ser abatido e desmantelado a partir de Fevereiro de 1993.

Eu estava na altura na missão de construção das fragatas Vasco da Gama, a fechar o respectivo período de garantia, e tinha integrado, com o engenheiro construtor naval Silva Paulo, a equipa da segunda vistoria ao Blue Rover. Fui chamado ao gabinete do Superintendente dos Serviços do Material, então o saudoso Almirante Moreira Rato, que me colocou uma questão muito simples:
‑ Assumindo que a Defesa aceita comprar o Blue Rover, de que é que precisa para ir buscar o navio a Inglaterra?
Assim mesmo, claro para militar entender!

Quem serviu com o Almirante Moreira Rato sabe que com ele a relação hierárquica assentava em dois pilares: a confiança e a lealdade. Tive a honra de merecer a sua confiança e por isso mantivemos sempre, em todas as circunstâncias, uma forte relação de lealdade. Quanto a me ter escolhido para aquela missão, nunca conversámos sobre isso, mas admito que estaria satisfeito com a forma com me desenvencilhei de tarefas e imbróglios mais ou menos complexos com estaleiro e fornecedores durante os anos do programa de construção das fragatas Vasco da Gama.

E foi assim que esqueci temporariamente a modernidade e as tecnologias das fragatas Vasco da Gama e esbocei um plano para trazer um navio auxiliar de 1970 para Lisboa. Defini a equipa inicial - um engenheiro construtor naval, os futuros Comandante, Imediato, Chefe de máquinas, Chefe de abastecimento e artífices de máquinas e electrotecnia e eu próprio - para recolher toda a informação possível sobre o navio junto da RFA e da tripulação britânica, preparar a vinda da restante guarnição e elaborar a lista de trabalhos de manutenção e adaptação a contratar localmente. Estimei um orçamento para fabricos, aprestamento inicial e despesas administrativas em Inglaterra e em Portugal, e indiquei os apoios e fornecimentos necessários dos organismos da Marinha. No dia seguinte fui com o Almirante Moreira Rato ao Ministério da Defesa Nacional para apresentar o projecto ao Director Nacional de Armamento e ao Secretário de Estado da Defesa e uns dias depois integrei o grupo que se deslocou a Londres para negociar a compra do Blue Rover à DESO. Depois de regateado e acordado o preço final de 5,5 M£, estabelecemos a data e o processo de entrega.

Como só dispúnhamos de dois meses para receber o navio, o plano inicial foi afinado e detalhado numa reunião das mais altas chefias da Marinha no gabinete do Chefe do Estado-Maior da Armada, ficando assente que os três Almirantes Superintendentes assegurariam a sua execução e os recursos mínimos necessários. Tratava-se de “fazer uma omelete com muito poucos ovos” e em muito pouco tempo. Foi nessa reunião que se definiu a nomeação e ida da guarnição por bordadas, a primeira até à entrega do navio e a segunda até o navio estar tecnicamente pronto para navegar para Lisboa. Foi-me dada autorização e cobertura para actuar com grande autonomia, mas com o rigor necessário para atingir o objectivo.

O RFA Blue Rover era em tudo um navio mercante. A tripulação tinha a formação, hierarquia e organização da Marinha Mercante e o navio era operado e mantido de forma significativamente diferente dos navios da Marinha militar. A todos os outros desafios, juntou-se mais um: transformar um navio mercante num navio militar em 2 ou 3 meses. Era necessário adaptar os alojamentos e redefinir as funções de bordo para uma nova estrutura da guarnição, alterar os modos de operação e manutenção para os aproximar das práticas correntes da Marinha Portuguesa, tudo em simultâneo com a recepção, aprestamento e reparação do navio. A minha experiência anterior na recepção e transformação do N/M Cabo Verde no NRP São Miguel era já longínqua e pouco ajudava numa conjuntura muito mais exigente.

O grupo inicial, muito heterogéneo e com poucas afinidades de personalidade e experiência, foi constituído por alguns voluntários como os engenheiros Silva Paulo e Cunha Lopes, este com seis anos de experiência no São Gabriel, e por pessoal nomeado de entre os disponíveis naquele momento. Aliás, dada a falta de tempo, o mesmo aconteceu com o resto da guarnição. Lembro-me do imediato, um oficial especializado em informática que pouco tinha navegado e necessitava do tirocínio para a promoção, do mestre que sabia tudo sobre o aparelho de vela da Sagres mas nada sabia sobre o aparelho de reabastecimento e mal entendia o inglês, do artífice que era especialista na montagem de antenas de televisão por satélite mas dizia não ter o curso do radar de navegação, lembro-me de muitas outras singularidades que a Direcção do Pessoal foi corrigindo ou minorando à medida que eram detectadas.

O que se passou a partir da ida do pequeno grupo inicial para Inglaterra não é fácil de resumir aqui, mas toda a estrutura de pessoal e do material da Marinha procurou dar resposta aos pedidos que íamos fazendo para Lisboa, enquanto o Ministério da Defesa Nacional, onde o comandante Mendes Calado era um elemento essencial, nos dava apoio financeiro. O Gabinete de Estudos, com o esforço do engenheiro Costa Alves, e a Direcção de Abastecimento, onde estava o saudoso Comandante Monteiro Marques, foram inexcedíveis no fornecimento do material de aprestamento, transportado num contentor pela Força Aérea e entregue no navio com o empenho do adido naval em Londres, o Almirante Teles Palhinha. Houve realmente uma convergência de vontades e esforços que ultrapassou todas as expectativas. E nós que estávamos no terreno, com a nossa diversidade, os nossos defeitos e as nossas qualidades, as nossas fraquezas e as nossas forças, fomos aprendendo uns com os outros, concentrados no essencial que era atingir um objectivo bem definido. Como disse mais tarde o Silva Paulo, tornou-se mais fácil para todos actuar num ambiente em que sabíamos ao que íamos, o que tínhamos de fazer e quais os critérios do processo.

Admito que tenha também havido alguma temeridade, que chegou mesmo a surpreender os ingleses que nos entregaram o navio. Logo após a recepção do navio e para navegarmos de Portsmouth para Falmouth, onde se situava o estaleiro contratado para o reparar e preparar para a viagem para Lisboa, não foi uma guarnição que pegou no navio, foi meia guarnição! Como a segunda bordada só embarcou no final dos fabricos em Falmouth, o navio saiu de Portsmouth conduzido por uma bordada que mal o conhecia e cujo treino foram duas a três semanas atracados em auto-aprendizagem e uma saída de um dia, sob comando inglês, para assistir ao reabastecimento da Exceter. Mas correu tudo bem. O navio navegou até Falmouth, pouco mais de um mês depois navegou até Lisboa e entrou a barra ainda antes do processo administrativo estar instruído!

E como não podia deixar de ser, também houve maledicentes. No plano inicial ficou logo definido que em Inglaterra só se fariam as reparações necessárias para assegurar a navegabilidade com segurança e as adaptações para a guarnição portuguesa, mesmo que a cor da ferrugem dominasse o exterior do navio. Como o navio estava a poucos meses de ir para a sucata, a RFA tinha de facto deixado degradar, e muito, os espaços e estruturas exteriores. Sabendo o que a casa gastava, tentei minorar o impacto visual e usei uma pequena parte do escasso orçamento de que dispunha para um tratamento de cosmética, necessariamente superficial e pouco duradouro. Mesmo assim, as más-línguas desconhecedores das circunstâncias do projecto, pegaram no óbvio e propalaram que tínhamos comprado sucata. O facto de o Bérrio continuar operacional e a servir a Marinha Portuguesa vinte e dois anos depois, quase tantos quantos navegou com bandeira britânica, é a melhor resposta para os maledicentes de então.

O padre António Vieira escreveu que “... o efeito da memória é levar-nos aos ausentes, para que estejamos com eles, e trazê-los a eles a nós, para que estejam connosco.” É por isso que recordo três camaradas ausentes que bem representam todos os que se empenharam nesta missão. Na cúpula da Marinha, o Almirante Pedro Joaquim da Costa Moreira Rato. Nos organismos de terra, o Comandante Paulo Manuel Monteiro Marques. E no navio, o Comandante Mário Ceríaco Dores Sousa, primeiro comandante do NRP Bérrio.

Concluída a missão, tivemos a certeza de ter levado a “carta a Garcia” quando observámos a festa que reuniu a bordo do Bérrio todos os Almirantes e comandos da Marinha Portuguesa, pouco tempo depois da chegada a Lisboa. Se tivéssemos falhado, a festa seria muito diferente.

Notas:

A Royal Fleet Auxiliary (RFA) é uma frota de navios mercantes do Ministério da Defesa do Reino Unido cuja missão é apoiar a Royal Navy, eventualmente em situações de combate.

O Defence Export Service Organisation (DESO) é o departamento do Ministério da Defesa britânico que promove a venda de equipamento militar, novo e usado, produzido por empresas do Reino Unido.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

A Morte das Borrachas



Segundo a imprensa britânica, o professor Guy Claxton do King’s College de Londres, que publicou trabalhos sobre cognição inconsciente e criatividade, terá defendido que as borrachas devem ser banidas das salas de aulas porque criam uma cultura de vergonha do erro e são um instrumento do diabo.

Receio que o professor Claxton esteja a praticar um lamentável plágio. Há muito tempo que as escolas dos jotinhas portugueses ensinam que os erros não se apagam, valorizam-se. Eles aprendem que se cometerem um erro, não há problema, basta seguir as três regras de ouro:
  • Regra n.º 1 – Ignorar todas as críticas, não corrigir o erro e nunca o reconhecer.
  • Regra n.º 2 – Esperar alguns meses e vangloriar-se do que fez errado. Os eleitores têm memória curta e vão acreditar que se tratou de uma acto de coragem de um visionário, incompreendido pelo comum dos mortais e avaliado injustamente pelos maldizentes e pessimistas.
  •  Regra n.º 3 – Repetir o erro em nome da coerência e da continuidade. Na primeira vez só os fiéis aceitam, na segunda a maioria aplaude, reconhecida e agradecida.

sábado, 6 de junho de 2015

Cartão de Aniversário



 



Psss... PUM! PUM! PUM!
PARABÉNS!
Psss... PUM! PUM! PUM!

Comemoramos o seu 91º aniversário assim mesmo, com os foguetes com que costuma festejar os beijinhos dos bisnetos mais novos!

E não é para assustar as coisas sinistras com nomes terminados em ia que o têm atormentado nos últimos tempos. Essas vão ser vencidas por si, como noutras ocasiões venceu outras também graves. Aliás nem podia ser de outra maneira. Para quem tem noventa e um anos de experiência de luta por sonhos e objectivos, contra todas as dificuldades, mesmo contra a teoria das probabilidades, este é apenas mais um episódio que em breve estará no rol das memórias.

Enfrentar e vencer desafios, criados por outros ou estabelecidos por si, sempre foi a sua característica mais marcante. Foi assim na escola; tinha de ser sempre o melhor aluno. Foi assim no desporto; tinha de ser sempre o melhor atleta. Foi assim no amor; tinha de conquistar a mulher perfeita. Foi assim na profissão; tinha de ser o mais competente e trabalhador, reconhecido pelos pares de todo o mundo. Foi assim com os filhos; tinha de ser o melhor pai em todos os momentos. Foi assim com a família; a sua tinha e tem de ser sempre a mais feliz.

Ainda jovem agrónomo, sonhou que Moçambique seria uma região produtora de café. Lutou por isso em Inhambane e na Malamba, em Quelimane e no Gurué, formou equipas de agrónomos e regentes agrícolas, motivou colaboradores e agricultores, construiu estações experimentais para o racemosa e o arábica, em zonas geográficas completamente distintas e a centenas de quilómetros do ar condicionado. Dormiu no mato e percorreu centenas de milhares de quilómetros, por picadas e pelo ar. Quando o regime colonial e os interesses das concessionárias do chá proibiram a concretização do sonho e o transferiram para Angola, perdeu a batalha mas não desistiu. Passadas duas décadas, quando Abril o permitiu, regressou a Moçambique para defender o mesmo sonho.

Recuperado das consequências devastadoras da decisão do poder colonial, sonhou que o melhoramento genético era a solução para a praga da ferrugem que dizimava as plantações de cafeeiros. Durante mais de trinta anos produziu cerca de seiscentos híbridos diferentes, sempre com a ideia de combinar material de qualquer origem resistente ao fungo, fosse da Etiópia, fosse da Índia, fosse de Timor, com a variedade comercial mais utilizada. Provou que a investigação científica em Portugal podia ter sucesso e ser rentável. Criou duas obras-primas, o Catimor e o Sarchimor. Trabalhou para os cafeicultores de África, da América do Sul e da América Central, sempre consciente que não eram ignorantes e tinham um espírito crítico muito apurado. Semeavam o que lhes fornecia depois de lhes explicar as vantagens da nova variedade, faziam viveiros, plantavam, acompanhavam os cafeeiros e apreciavam os resultados. Mas sabia que se falhasse uma vez, os cafeicultores nunca mais aceitariam uma semente.

Mas nunca falhou. Ano após ano, foi sendo cada vez mais solicitado para trabalhar nos países produtores de café, Angola, Brasil, Venezuela, Colômbia, México, Guatemala, Nicarágua, Honduras, Costa Rica, Panamá, República Dominicana, para criar estações experimentais, para ensinar nas universidades ou para apoiar centros de investigação. A tal ponto que passava no máximo dois meses por ano em Portugal e o resto andava a calcorrear o mundo. Sempre em comunhão com o grande amigo e mestre Alcides Carvalho. Porque nisto de amigos e colaboradores, aplicava a metodologia do melhoramento genético: seleccionar os melhores dos melhores e rejeitar todos os outros.

Mas foi no amor que cumpriu o seu mais belo sonho. Apaixonou-se um dia pela bonita adolescente de passada rápida que viu na Almirante Reis e que nunca mais deixou de amar. Sessenta e seis anos de um casamento extraordinário são a melhor evidência disso. Chama-lhe o seu anjo da guarda e nós, mesmo os avessos a considerações religiosas, somos obrigados a acreditar que assim é.

A mulher que escolheu para o acompanhar na aventura da vida é de facto singular e certamente por isso, foi o primeiro e único amor da sua vida. Um amor que se fortaleceu na luta constante pelos sonhos que partilharam. Nos momentos mais difíceis, quando tudo parecia ruir, foram capazes de, juntos, vencer as maiores adversidades. Assim foi na doença que quase o vitimou depois da transferência de Moçambique, na escolha de um processo de cura em que poucos acreditavam e que se transformou numa atitude de vida, no recomeço da carreira profissional, na recuperação de um acidente que nos filmes resulta em morte certa, nas crises de saúde que afectam ora um ora outro. E é graças a essa mulher maravilhosa e ao respeito e amor que têm um pelo outro que há sessenta e seis anos se mantêm como um casal perfeito, farol da nossa família, com uma força admirável e exemplar.

Mas afinal porque é que comemoramos este aniversário com os seus foguetes?
Porque há dias disse que quando nascer o seu décimo segundo bisneto, pum! Penso que entendi a mensagem mas não me parece bem. Não é justo que o décimo segundo bisneto não ouça os foguetes que os outros ouviram depois de lhe darem um beijinho! O menino não irá compreender o tratamento desigual e por isso começamos já a treinar para festejarmos consigo o primeiro beijo do seu décimo segundo bisneto!

Psss... PUM! PUM! PUM!
PARABÉNS!
Psss... PUM! PUM! PUM!

 E este filme foi o cartão dos bisnetos! (clique aqui)


segunda-feira, 1 de junho de 2015

O Acessório e o Essencial




Envelhecer é uma chatice, nunca pensei que fosse tão chato! dizia ele, entre o revoltado e o decidido a não se deixar vencer pelos noventa e três anos de uma vida cheia.

Está difícil mas ele não desiste facilmente.

É certo que a falta de equilíbrio o obrigou a encostar a mota há quase um ano. Ele, que sempre gostou de motas, Era uma boa maneira de ver as mães das miúdas! resolveu deixar a 125 que conduzia com a carta de automóvel, isto depois de lhe terem tirado a de motociclos. E agora decidiu vender o automóvel. Não porque o sobrinho e muitas outras pessoas lhe dissessem que era perigoso conduzir com aquela idade, mas porque andava a subir muitos passeios e a bater nas paredes.

O sobrinho sabe que não foram só passeios e paredes, também bateu noutros carros, por sinal sempre de senhoras. Aliás as mulheres sempre foram centrais na sua vida. Apesar das cataratas, tem a certeza que as miúdas de hoje são muito mais giras que as do seu tempo. O sobrinho não sabe exactamente a que grupo etário se refere quando fala de miúdas mas desconfia que é muito amplo.

Mas o passo mais difícil foi reconhecer que não conseguia viver só no seu apartamento. Com muita relutância, decidiu finalmente ir para um lar de idosos. Diz que aquilo é tudo gente velha mas não teve alternativa. E o sobrinho foi ajudá-lo a levar o computador para a sua nova casa.

No caminho para o lar, contava ele: Ontem houve uma final entre o Sporting de Braga e o Sporting de Lisboa e no fim ganhou o de Lisboa. Foi uma festa e hoje de manhã, uma empregada do lar, por acaso boa, apareceu com o cachecol do Sporting de Lisboa!

Quando pouco tempo depois o sobrinho conheceu a jovem do cachecol, não pôde deixar de sorrir e pensar: Pois é, percebo porque diz que envelhecer é uma chatice. É muito chato ficar pelo acessório e perder o essencial.

Mas deixe lá, é certo que o mal dos outros não serve de consolação mas há gente muito mais nova, com metade ou um terço da sua idade, que se contenta com o acessório e perde o essencial da vida!

domingo, 3 de maio de 2015

O Dia dos Milagres



Tenho para mim que se comete uma enorme injustiça histórica ao dizer que o 25 de Abril de 1974 foi o Dia da Liberdade. É certo que naquele dia o povo sentiu alguma diferença nas regras de comportamento em sociedade, mas o que foi isso comparado com a ocorrência de milhares e milhares de conversões milagrosas em todo o nosso Portugal?

Eu próprio, pouco ou nada crente em milagres, pude, nesse dia e em poucas horas, vivenciar uma boa mão cheia deles. Vivências que se repetiram de forma surpreendente nos dias seguintes, como se de repente um espírito sagrado tivesse iluminado a mente de muitos dos que até então me olhavam e tratavam com desconfiança. Os convertidos vinham até mim e manifestavam o seu apego à liberdade e à democracia, assim como o incondicional apoio ao movimento, como se estivessem diante de um sacerdote da nova religião. É claro que eu, fiel mas leigo não ordenado, limitava-me a indicar-lhes o nome de 2 ou 3 magistrados que certamente ficariam muitos satisfeitos com tais conversões.

Pensei contar algumas das vivências que bem podiam justificar a atribuição do epíteto de Dia dos Milagres ao dia 25 de Abril de 1974 mas desisti depois de ler um episódio muito mais inspirador narrado pelo Coronel Rosado da Luz, um militar de Abril, a quem coube desempenhar tarefas de coordenação e ligação pessoal entre o Posto de Comando do MFA e as unidades militares sublevadas que, em Lisboa, iam ocupando os vários objectivos que lhes tinham sido atribuídos.

O Rosado da Luz conta algumas das suas riquíssimas vivências do dia 25 de Abril de 1974 no livro “O Dia da Liberdade”, recentemente editado pela Verso da História com coordenação do Pedro Lauret. De entre os vários e deliciosos episódios, destaco o mais relevante para a demonstração da minha tese: “Uma Conversão Milagrosa.” Cá está, também a ele foi dado presenciar um milagre que bem justificaria a alteração da referência histórica!

Conta ele que a meio do dia 25 e apesar dos comunicados do MFA, um pacato cívico, a quem o chefe havia dado ordem para ir ao ensaio da récita que a PSP ia levar a cabo daí a dias e na qual era figurante, tinha abandonado a segurança da sua esquadra e tentado furar por entre a multidão que estava junto aos Armazéns do Chiado. É que o ensaio estava marcado para o Governo Civil para daí a alguns minutos e o agente da PSP entendia que não podia faltar senão seria castigado. Mas a multidão, ao ver o pobre do polícia, pressentiu o seu momento de glória e resolveu espancá-lo. Só a intervenção da guarnição de um carro de combate da EPC evitou que a história tivesse um final trágico.

O Rosado da Luz, chamado a intervir, deparou-se com “um típico agente da PSP daquela altura: gordinho, de meia-idade e ar provinciano, muito contundido, cheio de equimoses na cara, com o dólman meio despido, sem armas nem gravata nem botões na farda e na camisa.” Depois de ouvir as razões do pobre polícia, o Rosado da Luz tomou uma decisão que, melhor do que eu, ele sabe contar. Por isso, com a devida vénia, continuo a transcrever o seu testemunho no já citado livro.

Bem, perante tão pesados argumentos, resolvi ir eu mesmo entregá-lo ao Governo Civil que ficava a menos de 100 metros dali. Segui pela Rua Anchieta, que desemboca mesmo no Governo Civil, e ainda tive que afastar alguns populares que queriam acariciar a cabeça do pobre guarda com uns tijolos de uma construção que ali havia. Quando chego ao Governo Civil, as suas enormes portas de madeira (que hoje são de vidro) estavam encerradas e eu com a coronha da G3 bati à porta que passado algum tempo se entreabriu. A cena que se passou ficou-me para sempre na memória.  
O Governo Civil tem um enorme átrio que termina numa ampla escadaria que depois se bifurca em dois lanços, um para cada lado. Todo aquele átrio e escadaria estavam numa semiobscuridade, apinhados com largas dezenas de polícias e, à frente de todos, o celebérrimo capitão Maltês Soares, ex-comandante da Companhia Móvel da Polícia de Oeiras (a célebre «Polícia de Choque), responsável principal durante muitos anos, pela ferocíssima, desumana e violenta repressão sobre trabalhadores e estudantes que eu, aluno de Económicas, até tinha tido oportunidade de testemunhar pessoalmente em 1972. Era agora o comandante da 1ª Divisão da PSP. Eu não o conhecia pessoalmente, mas tal como acontece com os militares, também os polícias têm sempre o nome escrito na farda e assim soube de imediato quem era aquela bisca. Quando me vêem de G3 em punho meio fardado meio à paisana, com aqueles restos de um polícia, há um movimento generalizado de pânico e toda aquela gente recua pensando certamente: “é agora.” Entretanto, o Maltês Soares, à frente daquela gente toda, lê o meu nome na farda e diz-me: “ó Luz, a PSP está com a Revolução e com o MFA!” Não escondi um sorriso, lá lhes entreguei o polícia, lá lhes disse para se manterem por ali fechados e que nós nunca tínhamos duvidado do seu acrisolado amor pela democracia e regressei ao Carmo a dar ao Maia a novidade, daquela milagrosa conversão.

Digam lá se o 25 de Abril de 1974 foi ou não foi o Dia dos Milagres?

quarta-feira, 18 de março de 2015

O Penico tem de saber vela!





O Manel era um homem bom, humilde e generoso. É como sempre o vi, desde que nos conhecemos na Escola Naval. Fazíamos parte do tal grupo de cinquenta e um jovens que, vá-se lá saber porque estranhas razões, se juntaram num austero edifício na mata do Alfeite.

Para mim, aquele era um mundo novo. Sobre as matemáticas, as físicas e as políticas, tinha a experiência de dois anos de Técnico, da crise académica e das eleições de 69. Mas sobre as artes náuticas, era um zero absoluto. O mar para mim era praia; praia de manhã, à tarde e à noite.

Mas para o Manel, não. Ele era um veterano que conhecia bem os cantos da Escola Naval e ainda por cima dominava as lides náuticas. Podia tirar partido desse ascendente mas nunca o fez, antes pelo contrário. Preocupava-se até com a minha ignorância náutica e dizia-me: O Penico tem de saber vela! Eu vou ensinar-te.

E assim fez. Numa tarde fria de inverno lá fomos levantar um Vaurien no CNOCA e fizémo‑nos ao rio. Velejámos até ao Terreiro do Paço, acenámos às turistas no Cais das Colunas, corria tudo às mil maravilhas. Até que subitamente o vento refrescou e as condições mudaram radicalmente. Tentámos rumar ao Alfeite mas perdemos o leme. Foi o cabo dos trabalhos!

Não vou contar os detalhes da nossa aventura mas digo que foi duro. Durante horas lutámos contra os elementos mas com a liderança do Manel, um leme improvisado e a ajuda da maré, lá conseguimos voltar ao CNOCA, já noite e totalmente enregelados. Lavámos e entregámos a embarcação, corremos para a Escola Naval, fardámo-nos e apresentámo-nos para o jantar na hora limite. E guardámos só para nós o que correu mal.

Não sei se fui capaz de satisfazer as expectativas do Manel quanto à aprendizagem da vela, julgo que não. Mas sei que foi com episódios como este que criei laços de amizade e camaradagem indestrutíveis com homens bons como o Manel. Laços que duram há quase meio século, desde que o tal grupo de jovens decidiu juntar-se num austero edifício na mata do Alfeite

terça-feira, 3 de março de 2015

O Tio Miguel



– Tenho muita pena que o vosso filho morreu – ditou a Mafalda para ser escrito no desenho acabado de pintar para os avós.
A Mafalda tinha e tem muita pena, mesmo sabendo muito pouco sobre o filho dos avós que dizem ser seu tio.
Um tio diferente.
Todos os tios e tias são gente crescida como os pais, mas este não. Dizem-lhe que era um bebé. Mas os bebés que conhece respiram, comem, choram, dormem e crescem, e este não.
Nasceu há muito, muito tempo, não cresceu e está num sítio onde às vezes vai com a avó pôr flores.
A Mafalda gostava de perceber melhor e tem razão. Como todas as histórias, esta também merece ser mais bem contada.
Quarenta e um anos é tempo suficiente para lembrar o essencial e esquecer o acessório.
_______

Foi uma gravidez feliz. Nada prenunciava o que ia acontecer. A jovem mãe, ainda estudante universitária e já com uma barriga razoável, viveu intensamente os tempos atribulados da revolta estudantil, dos gorilas e das cargas policiais na cidade universitária. Acompanhou o marido e os amigos em tudo o que tivessem vontade de fazer. Eram as tertúlias na sua casa, eram as excursões turístico-gastronómicas pelo país para visitarem as terras-natal dos amigos, eram os dias de praia ou a acampar na Berlenga para fazer mergulho, eram as sessões da oposição na farsa eleitoral de 73, era tudo o que enchia a vida de um jovem casal com sonhos do tamanho do mundo.

Mas na hora do bebé nascer, as coisas deixaram de ser fáceis e simples. O pai, que tinha combinado com a médica assistir ao parto, ficou na sala de espera. De uma espera de muitas horas. Quando finalmente viu a mãe e o menino, percebeu que o parto tinha sido muito difícil. As marcas dos "ferros" eram bem visíveis na cabeça do bebé e a mãe estava muito combalida. Notou a imobilidade das pernas do menino mas a inexperiência, a delicadeza da médica e a felicidade de olharem o primeiro filho ofuscaram os sinais de que algo estava errado. Souberam depois que a médica decidiu conceder-lhes uma noite de felicidade.

No dia seguinte o avô foi buscar o pai do menino ao Alfeite, coisa que nunca tinha feito. Disse que havia um problema com o bebé, que era preciso ir à maternidade. A partir desse momento o mundo começou a desabar. Na maternidade, o neurologista explicou que o menino sofria de uma malformação congénita, espinha bífida aberta. A extensão dos danos neurológicos não podia ser avaliada com rigor mas eram significativos e irreversíveis. O tecido nervoso perdido não podia ser reparado e as funções dos nervos danificados não podiam ser restauradas. E era urgente decidir fazer, ou não, a cirurgia para fechar o defeito e eventualmente impedir a infecção nos tecidos expostos e a morte do bebé.

Os pais, mal preparados como a maioria dos pais perante o inesperado e a diferença, enfrentavam um doloroso dilema. Consultaram especialistas mas depressa perceberam que pouco ajudavam. A decisão teria de ser deles e rápida. E decidiram não operar. O menino foi internado em Santa Maria por ser o local com melhores condições técnicas para a sua situação. Faleceu com dez dias de vida.

Foram os dez dias mais duros e intensos do jovem casal. Ao drama pessoal juntou-se a vivência das carências do sistema público de saúde do passado. Numa enfermaria cheia de bebés, muitos deles abandonados pelas famílias, faltava tudo menos o esforço e empenho das enfermeiras. As fraldas dos bebés eram os restos de lençóis rasgados. Não havia roupa decente para as crianças. A roupa, as fraldas, os artigos de puericultura e até a alimentação do menino eram levados pela mãe. O que se passava num dos maiores hospitais nacionais era bem a imagem de um regime que estava prestes a cair.

Mas a mãe do menino, depauperada fisicamente e sujeita a um vendaval de emoções, encontrou a energia e a força de vontade necessárias para o acompanhar, cuidar e mimar com muito amor, até aos últimos minutos de vida. Num ambiente hospitalar desolador, a jovem mãe mostrou a coragem e a determinação que mais tarde constituíram a trave mestra de uma maternidade plenamente realizada.

Depois foi preciso voltar a levantar o mundo, juntos. Um mês e meio depois foi o 25 de Abril. A seguir a gravidez da segunda filha e a ansiedade da espera, com o pai ausente a navegar nas águas do Atlântico Sul e depois do Mediterrâneo. Já ficou dito noutra vivência que o nascimento da Joana foi anunciado ao pai por mensagem no centro de comunicações de um navio americano. Depois veio a Catarina. E mais tarde um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete netos!
Anos e anos cheios e muito felizes!
_______

Pois é, Mafalda. Sabemos que tens muita pena de o tio Miguel ter morrido. Nós também. 
Mas garanto-te que muito do que é a nossa família foi construído com o que aprendemos nos dez dias de vida do tio Miguel.
As flores que a avó lhe leva são um testemunho do nosso agradecimento.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Quarta-feira de Carnaval


Foi uma quarta-feira de cinzas cheia de máscaras carnavalescas: um marxista a defender a sobrevivência do capitalismo, um professor de economia reformado a falar de contas mal explicadas, um pecador numa confissão sem penitência e uma contabilista humilhada a fazer de arma de arremesso.
Enquanto o vento frio não leva para longe as cinzas deste Carnaval, resta gozar o belo sol de inverno.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

A very similar project

Fragata "Salamis", a quarta da classe "Hydra"

Dávamos os primeiros passos no programa de construção das fragatas da classe “Vasco da Gama”, no último terço da década de 80, quando recebemos uma delegação da Marinha da Grécia. A Marinha helénica ia adquirir fragatas Meko 200 semelhantes às portuguesas e os oficiais gregos vinham propor um acordo de cooperação e de troca de informações com a Marinha Portuguesa. Coube-me dialogar com o capitão-de-fragata Stamatis Kloudas sobre os detalhes dos sistemas mecânicos dos navios. Para além do posto, partilhava com o Commander Kloudas a qualificação académica e profissional obtida nos EUA. Embora o programa português estivesse num estádio bem mais avançado, a simpatia dos gregos cativou-nos e o acordo foi fácil.

Um par de anos mais tarde voltámos a encontrar o amigo Kloudas em Hamburgo, no estaleiro alemão da Blohm+Voss, então já capitão-de-mar-e-guerra. O Captain Kloudas chefiava agora a missão de supervisão do programa grego, iniciado cerca de um ano depois do nosso. A delegação grega, muito mais numerosa que a portuguesa, instalou-se num espaço contíguo ao nosso, e passou a ser uma visita assídua. À medida que o projecto dos navios helénicos progredia, habituámo-nos a receber o Captain Kloudas e os seus inúmeros adjuntos, pedindo-nos detalhes sobre os mais diversos aspectos do nosso programa e dos nossos navios. Num dia era isto, noutro dia era aquilo, e assim fomos com cada vez menos paciência e vontade, fornecendo elementos técnicos e de gestão do nosso projecto. Na prática, ensinámos o caminho das pedras que tanto trabalho nos deu encontrar. E tudo porque, como dizia o Captain Kloudas, o nosso era “a very similar project” e, claro, havia o tal acordo de cooperação.

Até fechar a porta do nosso escritório no estaleiro e regressar a Portugal no início de 1992, observei as aventuras daquele grupo heterogéneo e hierarquizado de oficiais de Marinha e de jovens que, residentes e a trabalhar na Alemanha, prestavam serviço militar por força da lei grega. A integração na delegação da Marinha no estaleiro contava como serviço militar obrigatório e para aqueles jovens, maioritariamente nascidos e educados na Alemanha e licenciados em engenharia por universidades alemãs, era uma oportunidade para o prestarem perto da família e de casa. Em troca eram, durante alguns (poucos) meses e para além de técnicos, tradutores e elos de ligação com os técnicos alemães, estafetas e moços de recados, e tudo o que fosse necessário para aligeirar o trabalho do Captain Kloudas e dos seus oficiais. Lembro-me do desconforto dos alemães perante os múltiplos e sofisticados esquemas que os oficiais gregos engendravam para contornar dificuldades do programa ou até satisfazer interesses pessoais, como por exemplo, a aquisição de BMWs topo de gama, a preços reduzidos e totalmente isentos de impostos.

Cerca de um ano depois, numa noite invernosa, estava eu alojado numa messe da Marinha britânica e encarregado de tarefas que já nada tinham a ver com a construção das fragatas, fui acordado pelo clarão de um incêndio num navio ao largo de Portland, no sul de Inglaterra. Soube de manhã que se tratava da novíssima fragata grega "Hydra", recém-saída do estaleiro de Hamburgo. Procurei saber as causas do incêndio, não fosse existir um risco semelhante nas nossas. No fundo eram “a very similar project.” Todas as diligências, primeiro junto do comando do navio e depois junto da Marinha grega, foram infrutíferas. Consegui mais tarde obter a informação no estaleiro, embora com limitações resultantes do litígio que o incidente entretanto provocou. E assim se frustrou a primeira, e julgo que última, oportunidade de inverter o fluxo de informação entre as Marinhas portuguesa e grega.

Mais alguns anos passados, já perto da viragem do milénio, fui integrado numa delegação enviada pelo Ministério da Defesa Nacional a Atenas para renovar o velho acordo de cooperação com a Marinha grega. Chegados ao ministério da defesa grego, fomos recebidos com toda a pompa e simpatia. E por quem? Pelo nosso amigo Kloudas, agora já contra-almirante e chefe daquilo tudo! Mais de dez anos depois, mantendo-me eu no posto de capitão-de-fragata, voltei a ouvir as mesmas loas ao acordo de cooperação entre as duas Marinhas, agora sobre a manutenção e modernização das fragatas, tudo porque eram “a very similar project.

Não sei o que se passou depois da renovação do acordo porque entretanto passei à reserva e dediquei-me a outras guerras. Mas sei que o Vice-almirante Kloudas chegou a "Inspector General of the Hellenic Navy" e, para mal dos nossos pecados, Portugal e Grécia continuam envolvidos no que dizem ser “a very similar project.”