quarta-feira, 14 de junho de 2023

Semear Abril



Hoje fomos à EB1 José Jorge Letria do Agrupamento de Escolas da Cidadela para a sexta e última conversa do projeto “Semear Abril”. Conversámos sobre o impacto do 25 de Abril e da Revolução dos Cravos na vida dos portugueses em Portugal e no estrageiro e, em especial, lembrámos a luta, em 1984, das mulheres da comunidade portuguesa de Toronto, no Canadá, por melhores condições de trabalho e salariais. Foi o culminar de uma sequência de conversas com crianças dos 3º e 4º anos do ensino básico sobre o 25 de Abril e os seus valores. 

No corrente ano letivo, duas escolas do 1º ciclo do ensino básico aderiram ao projeto “Semear Abril”: a EB1 José Jorge Letria do Agrupamento de Escolas da Cidadela e a EB1 Fausto Cardoso de Figueiredo do Agrupamento de Escolas Ibn Mucana, ambas no concelho de Cascais. 


Como até este ano letivo o "Abril Hoje" e as palestras sobre o 25 de Abril foram dirigidas a escolas secundárias ou do 2º e 3º ciclos do ensino básico, divulgar e debater o 25 de Abril e os seus valores com crianças de idades entre os 7 e os 9 anos constituiu um novo e aliciante desafio.

Cada sessão de 90 minutos foi dividida em duas partes: a primeira, de evocação do processo de organização do MFA e de preparação e execução do golpe militar, tomando como referência as ocorrências no período correspondente, há 49 anos; a segunda, de apresentação e debate de um tema que interessasse às crianças e de alguma forma estivesse relacionado com os valores de Abril.

Em outubro, falámos do Portugal do Estado Novo, das condições de vida difícil que empurraram muitos portugueses para a emigração, da repressão e restrições à liberdade individual, social e política, e da guerra em África. Depois de descrevemos o processo de maturação do MFA, propusemos que os alunos trabalhassem a história d’“O Carapau de Corrida” e participassem no júri de Turma com o objetivo de compreenderem a importância do contributo individual e coletivo para o bem-estar e sucesso do grupo.

Em novembro, detalhámos o processo de consciencialização e debate interno no MFA que culminou com as reuniões de São Pedro do Estoril e Óbidos e contámos a história da Casa da Cerca e da família Ribeiro que a habitou até 1988. Depois ensinámos nós de marinheiro, lembrámos que sem nós o que seria de nós, procurámos nos nós o que gostaríamos de ter em nós, falámos de justiça a propósito do nó direito e aconselhámos a evitar o nó cego ou… górdio.

Em janeiro, explicámos como se deu a estruturação do MFA e como se esboçaram as grandes linhas políticas do seu programa. Para que os alunos chegassem à definição de uma sociedade justa que assegure o acesso aos bens básicos a todos, os direitos e as liberdades fundamentais de todos os cidadãos, a igualdade real de oportunidades, uma vida digna para todos e uma distribuição da riqueza que beneficie os menos favorecidos, debatemos a vida no “Reino de Sikkal”, um país situado no alto das montanhas que, durante séculos, teve pouco contato com o resto do mundo.

Em fevereiro, continuámos a falar da estruturação do MFA que culminou com a aprovação do documento “O Movimento, as Forças Armadas e a Nação” na reunião de Cascais. Depois, para debater os temas da “Gestão de Conflitos”, da “Liderança e Disciplina” e da “Responsabilidade e Limites das Liberdades Individuais”, debatemos o conto “Estúpidas são as galinhas” que descreve a atribulada partida de uma nau da Índia de Goa, em 1750.

Em abril, descrevemos o planeamento e a execução das operações militares do dia 25 de Abril de 1974 e conversámos sobre o texto “A Casa e o Forte” que relata a libertação dos presos políticos da cadeia de Peniche em 27 de Abril de 1974.

Durante o ano letivo, os alunos participaram em outras iniciativas do “Semear Abril” como, por exemplo, a edição do jornal escolar, o debate sobre bullying, o cuidar de um canteiro de cravos ou a exposição de trabalhos sobre o 25 de Abril.

Para nós, foi uma experiência extraordinariamente gratificante. Ainda hoje, depois de uma hora a falar de um tema “puxado” para uma turma do 4º ano, foi bom ouvir as opiniões positivas e os agradecimentos de quase todos os jovens. E em especial, foi bom receber um pequeno bilhete com esta mensagem manuscrita: “Jorge, muito, mas muito obrigada pela história e atenção. Alice.”