"Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras
Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada
De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse
Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra"
Como é actual este poema que Sophia de Mello Breyner Andresen publicou em "O Nome das Coisas"!
Voltei a ele depois de assistir à assinatura dos decretos presidenciais por Trump, no dia em que tomou posse como presidente dos EUA. Assisti com “fúria e raiva”, ao elogio de nazis, ao espezinhar do primado da lei, ao desprezo pelos direitos humanos, a tudo o que caracteriza um ditador.
Ao contrário do que pode parecer, Trump não é apenas um populista espertalhão criado no mundo da especulação imobiliária ou dos reality shows, é acima de tudo a face visível da implantação nos EUA do capitalismo autoritário que põe em causa os valores da democracia liberal, arrasa o que resta do Estado social e assegura a concentração do poder e da riqueza nos oligarcas mais ricos.
Os receios que manifestei há cerca de oito anos sobre o que me parecia uma evolução perigosa para o capitalismo autoritário no mundo, confirmaram-se plenamente e ele aí está em todo o seu esplendor no país mais poderoso desse mundo.
E como então referi, continuamos a ser incapazes de nos opor de forma credível e eficaz ao avanço do autoritarismo e à destruição do Estado de Direito Democrático consagrado na nossa Constituição.
Nós portugueses, assim como todos os europeus.
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