domingo, 14 de junho de 2020

A culpa foi das namoradas

Não me faltavam explicações para a minha descrença na ditadura e na guerra. Costumava até discuti-las com os mais jovens. Mas não fora a leitura das memórias de um oficial que conheceu os teatros de operações e a minha escola militar, ainda hoje não conheceria a verdadeira explicação, a definitiva, a que, na minha mente, se sobrepôs a todas as outras.
 
Sou de uma geração de rapazes que ouviu prédicas sobre os perigos do desencaminhamento pelas mulheres imorais que não hesitavam em usar o prazer carnal para nos prenderem nas cordas do pecado. Que foi avisada da existência de meninas sabidas que não perdiam a oportunidade de um casamento de conveniência. Mas infelizmente não foi alertada, pelo menos eu não fui, para os malefícios da propaganda subversiva veiculada pelas namoradas.

Hoje sei, porque as memórias do distinto oficial assim o dizem, que à semelhança de muitos outros, fui vítima de uma doença contagiosa. A epidemia ocorreu entre 1970 e 1972, quando havia uma grande propaganda nos meios académicos e fomos contagiados pelas nossas namoradas, ligadas às Universidades.

Finalmente, 50 anos depois, tenho uma certeza sobre a matéria: a culpa foi das namoradas!

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