Para o menino de Inhambane, no Natal não havia pai natal, nem renas, nem neve ou frio. Havia um presépio com o menino Jesus que trazia prendas num canto da sala e, principalmente, havia calor e a praia ali mesmo em frente da casa.
Com os outros meninos, descia as escadas de betão e entrava no mar quando lhe apetecia. A pouca profundidade da água e a rede para os tubarões permitiam que brincassem e as mães não ficassem preocupadas. Mas as escadas não serviam só para o acesso à praia. Quando a maré estava vazia, a cavidade por baixo dos degraus era o sitio ideal para as conversas que não queriam que os adultos ouvissem.
Aquele espaço exíguo transformava-se, pela esperteza e experiência dos mais velhos e pela curiosidade dos mais novos, numa escola onde se aprendia tudo o que os adultos não queriam ou não sabiam ensinar. Ali o menino aprendeu, por exemplo, que a pilinha não servia só para fazer xixi. Um dia, um dos mais crescidos, ou sabidos, deu uma aula teórica da matéria, com modelo de demonstração e tudo. Desenhou uma figura feminina na areia húmida, fez um buraco com o dedo no sítio devido, deitou-se sobre ela e mostrou como os adultos faziam. O menino registou o novo conhecimento mas não percebeu porque razão os mais velhos faziam aquilo. Só uns bons anos mais tarde, noutras latitudes, completou a disciplina com as indispensáveis aulas práticas.
Foi também na escola das escadas para a praia de Inhambane que o menino aprendeu que as prendas de Natal eram dadas pelos pais e que Jesus nada tinha a ver com isso. Neste caso, apesar de ter percebido a matéria toda, preferiu continuar a colaborar e não estragar a festa dos pais. Embora fossem só brinquedos para a irmã e para ele, os pais ficavam tão contentes com a abertura das prendas deixadas pelo menino Jesus que ele não podia de forma alguma desmanchar-se.
E assim se mantiveram as coisas por mais uns bons anos até que o avô do menino, também noutras latitudes, resolveu pôr fim à representação.
Um feliz Natal, acreditem ou não no menino Jesus!
Sem comentários:
Enviar um comentário