domingo, 3 de dezembro de 2017

O Rameloso


Aeroclube de Inhambane, 1951

Sempre que não engraçava com alguém, era certo e sabido, punha-lhe uma alcunha. Acontecia com todos mas muito em particular com os representantes do poder colonial. O governador-geral de Moçambique era o Fadista, o governador de Inhambane era o Rameloso, assim como mais tarde o de Quelimane foi o Narciso. Era assim que se referia a eles nas conversas com a mulher e os mais próximos.
Os amigos não estranhavam mas a mulher, cautelosa, avisava:
– Habituas-te a usar alcunhas e um dia ainda te sai sem quereres!
E de facto, o inevitável aconteceu.
Passeavam na marginal com um casal recém-chegado a Inhambane e ele, entusiasmado com a descrição da actividade profissional, começou a referir-se ao Rameloso para aqui, ao Rameloso para acolá, sem se lembrar que os interlocutores não faziam ideia de quem era tal personagem.
Até que um deles perguntou a medo, não fosse a pergunta ser interpretada como demonstração de ignorância:
– Mas quem é o Rameloso?
– É Sua Excelência o Senhor Governador – respondeu com toda a naturalidade, e continuou a conversa.

A foto de 1951 foi a única que encontrei com as duas personagens. O 1.º da direita, em pé, é o protagonista, o meu pai, e Sua Excelência o Senhor Governador, como manda o protocolo, ficou ao centro. Para além do governador, vemos o presidente e os pilotos do Aeroclube de Inhambane que assinaram o verso da fotografia.

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