segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Quando os Pais Acreditavam no Menino Jesus

Namaacha, Natal de 1957

O miúdo gostava do Natal. Por muitas razões, sabe-se lá qual a mais importante.

Era uma época em que sentia os pais ainda mais felizes. Estivesse a família onde estivesse, fosse em Lourenço Marques, em Inhambane, em Palhais, na Namaacha ou em Quelimane, era sempre um tempo de alegria.

Os pais diziam que naquela noite vinha o menino Jesus e que deixava prendas para quem se portasse bem. Para o receberem, adultos e crianças, preparavam um presépio com os materiais apanhados no mato. Faziam o melhor que sabiam e podiam para criar o presépio mais bonito das redondezas.

E a verdade é que, fosse pela beleza do presépio ou fosse pelo comportamento do miúdo, ano após ano, fizesse calor ou fizesse frio, em Moçambique ou em Portugal, o menino Jesus não falhava. Em cada dia de Natal, ao acordar, o miúdo ia espreitar o sapato deixado junto do presépio e lá estava ele, rodeado de prendas.

Seguia-se o ritual da abertura dos embrulhos, uma festa para todos, em especial para os pais. O miúdo não percebia bem porquê, eram só brinquedos para ele e para a irmã, mas parecia que os pais ficavam tão ou mais felizes que eles.

O Natal tinha assim uma magia que o miúdo não queria perder. Mesmo quando a escola das brincadeiras de rua lhe ensinou que o menino Jesus não existia e que eram os pais que lhe davam os brinquedos, o miúdo calou-se bem calado e continuou como se nada soubesse.

Mas o avô José Francisco é que não estava muito satisfeito com a situação.
– Um matulão e ainda acredita no menino Jesus? Não pode ser! – terá ele pensado. E assim que achou oportuno, perguntou de chofre:
– Ouve lá, tu ainda acreditas no menino Jesus? Claro que o miúdo não podia mentir, em especial àquele avô, e respondeu naturalmente:
– Não, mas tenho de fingir por causa dos meus pais.

O miúdo não sabe o que o marcou mais, se a expressão de gozo do avô se a desilusão dos pais quando este lhes contou o que tinha descoberto. O que sabe é que o Natal não voltou a ser o mesmo, apesar do menino Jesus ter continuado a trazer brinquedos para a irmã mais nova.

Que saudades de quando os pais acreditavam no menino Jesus!

1 comentário:

  1. Bela autobiografia.
    Eu também, tal como tu, AINDA vivo um pouco a minha própria "estória" dos meus Natais de criança, do sapatinho, do menino Jesus , das prendas recolhidas na madrugadas de 25 de Dezembro, sendo praticamente esta a minha actual participação das Festas do Natal, pois o meu neto já tem 24 anos e o meu filhos alguns mais.......
    Mas gosto e tenho prazer em ver os outros a participar à sua maneira....
    Vivamos assim à nossa maneira, O MELHOR POSSÍVEL e
    BOAS FESTAS

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