sábado, 3 de julho de 2021

O paquete "Angola"



Camaradas do meu curso e do curso "AC" da Escola Naval assinalaram os 50 anos da travessia do Equador na “Sagres” no final de Junho de 1971. De facto, os cadetes e os aspirantes dos dois cursos atravessaram o Equador rumo ao Brasil e os que supostamente o faziam pela primeira vez, foram devidamente julgados e castigados pelo Rei Neptuno e a sua corte.

Não escapei de ser julgado, mas no meu caso pessoal, e certamente no de outros que nasceram ou viveram nas antigas colónias africanas, aquela não foi a primeira vez que atravessei o Equador num navio. A minha primeira vez tinha sido muito tempo antes no paquete “Angola”, no final de 1956, na viagem de regresso a Moçambique, depois de uma estadia na Metrópole para conhecer os meus avós maternos. A viagem de Lourenço Marques para Lisboa tinha sido feita de avião, mas o regresso foi por mar, no “Angola”.

O quarto navio de bandeira portuguesa, e terceiro paquete, com o nome “Angola” foi encomendado aos estaleiros R & W Hawthorn, Leslie & Co Ltd de Newcastle e entregue à Companhia Nacional de Navegação” (CNN) em Dezembro de 1948, para operar na carreira de África. Com o seu gémeo “Moçambique”, foram os primeiros paquetes portugueses equipados com motores diesel (2 motores “Doxford” de 6 500 HP cada), um salto significativo em termos de economia de exploração.

Em 1956 viajei com a minha mãe e a minha irmã de Lisboa para Luanda para nos reencontramos com o meu pai que estava a fazer um estágio sobre a cultura do café em Angola, com o objectivo de depois dinamizar a sua produção em Moçambique. Embora criança, tenho uma memória muito viva da vida a bordo do “Angola”, da festa de passagem do Equador e, principalmente, do trajecto entre Luanda e Lourenço Marques, depois do meu pai se juntar a nós.

Não há dúvida que as longas viagens de barco nos marcavam de uma forma indelével, em nada comparável com as de avião.