Para o miúdo que o viu do 2º balcão do imenso Monumental, Kirk Douglas será sempre o escravo trácio, Spartacus, que foi vendido como gladiador, mas conseguiu iludir o destino e comandar um exército de escravos contra a decadente, mas ainda poderosa República Romana. E será acima de tudo o herói que viveu uma bela história de amor por Varinia, a mulher que lhe foi oferecida pelo amo como privilégio de gladiador. O miúdo nunca esqueceu as imagens da intensa relação personificada por Jean Simmons e Kirk Douglas, no limite do que à época a censura permitia nas salas de cinema portuguesas.
Mal sabia o miúdo que aquele filme tinha dado um contributo para o derrube de uma outra censura, a que nos EUA levou à prisão, proibiu o exercício da profissão e forçou o exílio do argumentista Dalton Trumbo e de muitos outros trabalhadores da indústria cinematográfica norte-americana.
Dalton Trumbo foi vítima do macartismo no final da década de 1940 e só muito mais tarde foi autorizado a exercer livremente a sua profissão. A reabilitação foi lenta e demorada mas em 1960, primeiro Otto Preminger com o “Exodus” e depois Kirk Douglas com o “Spartacus”, decidiram contratar e reconhecer Dalton Trumbo como argumentista dos seus filmes. Foi um gesto corajoso que iniciou o processo de eliminação da lista negra dos suspeitos de simpatizarem com os ideais comunistas.
Hoje o miúdo sabe tudo isso, mas continua a preferir recordar a história de amor de Spartacus e Varinia.
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