Escolheu cuidadosamente um carro para a mulher e encomendou-o da fábrica em Inglaterra, por catálogo.
Só podia ser um Austin Mini Special de Luxe, de 1970, uma novidade em Portugal. Para além dos 1000 cm3 de cilindrada e de algumas melhorias estéticas relativamente aos vulgares 850, era o primeiro Mini com elevador manual de vidros nas portas laterais!
Depois de uma longa espera e de um complicado processo de desalfandegamento, o carro finalmente chegou. Um Mini vermelho resplandecente, que desde logo pareceu ser diferente de todos os outros carros. Por isso foi baptizado com o nome de Tovinhas. Tinha de ter nome, e o dele foi sugerido pela matrícula inglesa: TOV 441 H.
Hoje sabemos que o Tovinhas é de facto diferente dos outros carros. De tal forma que faz parte da família, já lá vão quatro gerações. Foi e será sempre o carro da mulher. Mas também foi o primeiro carro conduzido pelos filhos, foi o carro onde passeou e brincou com os netos e, acima de tudo, foi o carro onde voou com os bisnetos.
Voou? Sim, leram bem, voou!
E a prova de que voou é esta conversa registada pela neta mais velha, há poucos dias, quando conduzia quatro dos doze bisnetos no seu mono-volume, com o tejadilho aberto.
– Parece que voamos! – exclamou o Pedro.
– O Tovinhas é que voa mesmo! – corrigiu a Maria. – Já voaste nele, Pedro?
– Ainda não – respondeu o Pedro. – Eu já! – atalhou o João.
– Sabes, a chave que o faz voar está perdida em Palhais... – esclareceu a Maria. – Quando lá formos dormir podíamos ir à procura, não era?
E todos afirmaram que sim, excepto o Tomás, que ia à frente.
Deu um toque no braço da mãe e sorriu.