terça-feira, 27 de setembro de 2016

O Tovinhas


Escolheu cuidadosamente um carro para a mulher e encomendou-o da fábrica em Inglaterra, por catálogo.
Só podia ser um Austin Mini Special de Luxe, de 1970, uma novidade em Portugal. Para além dos 1000 cm3 de cilindrada e de algumas melhorias estéticas relativamente aos vulgares 850, era o primeiro Mini com elevador manual de vidros nas portas laterais!

Depois de uma longa espera e de um complicado processo de desalfandegamento, o carro finalmente chegou. Um Mini vermelho resplandecente, que desde logo pareceu ser diferente de todos os outros carros. Por isso foi baptizado com o nome de Tovinhas. Tinha de ter nome, e o dele foi sugerido pela matrícula inglesa: TOV 441 H.

Hoje sabemos que o Tovinhas é de facto diferente dos outros carros. De tal forma que faz parte da família, já lá vão quatro gerações. Foi e será sempre o carro da mulher. Mas também foi o primeiro carro conduzido pelos filhos, foi o carro onde passeou e brincou com os netos e, acima de tudo, foi o carro onde voou com os bisnetos.
Voou? Sim, leram bem, voou!

E a prova de que voou é esta conversa registada pela neta mais velha, há poucos dias, quando conduzia quatro dos doze bisnetos no seu mono-volume, com o tejadilho aberto.
– Parece que voamos! – exclamou o Pedro.
– O Tovinhas é que voa mesmo! – corrigiu a Maria. – Já voaste nele, Pedro?
– Ainda não – respondeu o Pedro. – Eu já! – atalhou o João.
– Sabes, a chave que o faz voar está perdida em Palhais... – esclareceu a Maria. – Quando lá formos dormir podíamos ir à procura, não era?

E todos afirmaram que sim, excepto o Tomás, que ia à frente.
Deu um toque no braço da mãe e sorriu.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

A Vencedora



Sempre disse que tens tanto de sensível como de forte e determinada.
E tu provaste que estava certo.
Venceste o inimigo traiçoeiro e no fim da infinita aflição, vimos uma flor ainda mais bela brotar do impossível chão, tal e qual como diz a canção.

Parabéns, minha neta, minha linda flor!

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Um Menino Especial


Dizem que és um menino especial.
Tu não sabes porquê, mas eu sei.
E um dia vou contar-te.
Com muito amor.
Com o mesmo amor que senti há um ano, na mais bela passagem de testemunho a que assisti.
A passagem de testemunho da vida!

sábado, 3 de setembro de 2016

Coincidência

 
Em Setembro de 1974, o ano de todas as experiências, estávamos em Angola.

Março tinha sido um mês muito triste para a João e para mim. A Isabel, já com uma bela barriguinha, e tu, tentaram animar-nos mas não era possível fazer mais. Lembro-me de dizermos que a partir daquele momento a preocupação era a vossa criança.

Abril foi o mês da liberdade. Festejámos juntos, com a sensação de que estava tudo por fazer. E cada um de nós tentou fazer o seu melhor.

A partir de Junho navegámos no mesmo navio. Luanda, Moçâmedes, Cabinda, São Tomé, São Vicente, foram alguns dos portos onde percebemos que o mundo iria mudar para quem vivia na África colonial portuguesa. Assustámo-nos com a ilusão vivida por muitos, apesar dos sinais de que a situação caminhava rapidamente para o descontrolo. A reacção ao assassinato de um taxista em Luanda foi o sinal de alarme.

No terceiro dia de Setembro, em prevenção rigorosa por causa dos conflitos nos musseques de Luanda, recebeste a notícia do nascimento da tua filha. Tenho a certeza que foi o dia mais feliz da tua vida. Festejámos juntos e adequadamente o sucesso da chegada da criança que tinha deixado de ser preocupação.

Por coincidência, a Renata nasceu no dia de aniversário da João. Não estranhei porque já estava habituado. Há anos que me encontrava contigo e com os teus irmãos nos momentos mais diversos da vida, sem que nada tivesse sido previamente combinado. Foi no liceu, foi no Técnico, foi na Escola Naval. Porque é que a Renata não havia de ter direito à sua coincidência?

Depois desse Setembro de 1974, continuámos a viver uma amizade que não foi feita de coincidências. Até que a vida nos pregou uma valente partida.

Por isso, neste dia de aniversários, sinto sempre saudades tuas, Paulo!