Revejo a fotografia de 1955 da minha família, nas escadas da casa da Pinheiro Chagas, em Lourenço Marques, na actual avenida Eduardo Mondlane em Maputo, Moçambique. No cimo está a avó Isabel, a matriarca, e um pouco abaixo, o avô Bettencourt.
Três ou quatro anos antes da primeira Grande Guerra, dois jovens madeirenses recém-casados, a Maria Isabel do Arco de São Jorge e o António Jorge de Gaula, cumpriram a sina de muitos portugueses. Deixaram a sua ilha natal e emigraram para Moçambique, na busca de uma vida melhor. Quarenta anos depois devem ter querido registar a face visível do seu sucesso: uma prole feliz na casa nova, construída com anos de trabalho e sacrifícios.
Um fotógrafo desconhecido, presumo que amigo da família, fixou o instante que provavelmente não mais se repetiu: a reunião de três gerações Bettencourt, com vários Jorge. Nesta foto estão dois: eu e o meu primo Aníbal Jorge, com as nossas irmãs Emília e Isabel. Atrás, de costas, estão a avó Isabel e a tia Maria do Carmo.
A primeira geração deixou-nos há muito. Hoje partiu o meu tio Toni, o sobrevivente, e que sobrevivente, da geração dos filhos, uma menina e quatro rapazes. Dos nove netos, quinze bisnetos e dezassete tetranetos, alguns também já nos deixaram.
Dei por mim a pensar que sou o mais velho da geração dos netos, a dos miúdos da foto. É a lei da vida e por isso hoje teve mais significado estar com o meu neto, o Bettencourt mais novo, também Jorge.
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