Alexandra Reis (foto original do Expresso) |
A frase deu-lhe a fama que não gozou em vida porque o romance foi rejeitado por vários editores e só foi publicado dois anos depois da sua morte. Mas hoje é repetida em todo o mundo, quase sempre alterada para confirmar o pensamento do autor: "Para que tudo fique na mesma, é preciso que alguma coisa mude."
Lembrei-me de Lampedusa quando ouvi a notícia da demissão de Alexandra Reis. Era a mudança inevitável para que continuemos a acreditar que virão soluções decentes. Soluções que não virão, por mais mudanças que venham a acontecer.
É óbvio que a nomeação de Alexandra Reis não foi uma solução decente, mas duvido que o seu pecado maior tenham sido os 500 mil euros de indeminização da TAP. Quantos pecados destes, e mais graves, foram, e continuarão a ser, cometidos na teia de cumplicidades entre dirigentes partidários e da administração e empresas públicas, sem que houvesse um coro de virgens ofendidas?
Sei por experiência própria que o trabalhador comum não tem direito a tais indeminizações. Sei como é difícil receber indeminizações incomparavelmente mais reduzidas depois de trabalhar durante muitos mais anos, às vezes uma vida.
Sei o que tive de lutar, até no tribunal, pela indemnização dez vezes menor a que tinha legalmente direito quando fui despedido. Mas o Olimpo dos escolhidos para governar o Estado e as empresas não se rege pelas mesmas regras que o cidadão comum e por isso ouvimos dizer que Alexandra Reis teria, por lei, direito a uma indeminização três vezes superior!
A Alexandra Reis secretária de Estado foi afastada para que a teia de cumplicidades entre dirigentes partidários e da administração e empresas públicas continue como está. Amanhã serão outros, para que tudo mude e as gentes do arco da governação (um termo que também mudou, lembram-se?) continuem a cometer pecados tão ou mais graves do que o dela.
Só peço que nos poupem aos discursos hipócritas. Todos sabemos que as vossas mudanças, tal como Lampedusa escreveu, são para que tudo continue como está.
Ora, cosa devo fare ?
ResponderEliminarPrimo:
- acabar com o estatuto de excepção que permite a empresas estatais pagar aos seus administradores mais do que ao primeiro-ministro, como está na lei geral.
Secundo:
- naquelas empresas, estabelecer que seja o/a presidente executivo/a propor a sua equipa à Administração (Estado).
Terzo:
- não nomear burras ou burros para cargos relevantes no Estado que se esqueçam de acentuar, nos seus currículos, potenciais casos de escândalo público.
Distinti saluti !
Luigi (se Pirandello, direbbe che niente è più complicato della sincerità ...)