segunda-feira, 4 de abril de 2022

Memória profissional

Ao mexer em papéis antigos, encontrei este quadro de cores dos encanamentos das fragatas da classe "Vasco da Gama". Pouco dirá à maioria dos leitores desta publicação, mas está ligado a um período muito especial da minha vida profissional e por isso decidi reproduzi-lo.

A aquisição e construção das fragatas da classe Vasco da Gama provocou uma verdadeira revolução na engenharia naval militar portuguesa. O salto tecnológico que aqueles navios induziram foi um enorme desafio para quem estava no centro das discussões e decisões técnicas, como foi o caso do grupo de quatro oficiais em que me incluía e que, a partir do final de 1986, discutiu com o estaleiro alemão e os fornecedores, a especificação contratual da plataforma dos navios e dos seus sistemas electrónicos e electromecânicos.

Muitas das tecnologias, dos conceitos e dos sistemas dos navios eram novidade para a nossa Marinha e foi preciso rever muitas práticas e definir até coisas muito simples como, por exemplo, as cores das fitas adesivas que iriam ser usadas para identificar os encanamentos do navio em função do sistema a que pertenciam e do fluido que transportavam.

Pois este foi o desenho produzido com uma das primeiras versões do AutoCad, num caríssimo computador desktop Zenith Z-286 com 640kb de RAM e um gigantesco disco de 20 Mb, e num plotter de canetas Roland. Foi a forma expedita de produzir um documento discutido por meia dúzia de “especialistas” do Gabinete de Estudos que se substituíram ao moroso processo de normalização e que foi entregue ao estaleiro Blohm+Voss como a norma da Marinha portuguesa.

Para os colegas engenheiros navais, poderá ser interessante comparar o nosso trabalho de 1986 com a norma ISO 14726 que mais de uma década depois normalizou as cores das fitas adesivas de identificação dos encanamentos dos navios. Não ficámos muito longe…

 

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