A consulta com a médica de família estava marcada para as quatro da tarde.
A imobilização do braço por causa da recente fractura do colo do úmero não a deixa conduzir e por isso pediu-me para a levar ao centro de saúde. Mas antes ia ao cabeleireiro, estava a precisar: “Vens-me buscar à uma e um quarto e deixas-me lá”.
Faltava um quarto para a uma, telefonou: “Então onde estás, já estou à tua espera?” Fez confusão com as horas de outro compromisso e estava na rua. Saí logo que pude, mas quando a vi já tinha andado mais de um quilómetro. “Vim andando… fez-me bem andar…”
Entrou no carro e deu-me as instruções para a tarde: “Tenho aqui os pingos para vista, são de duas em duas horas. Às duas peço à cabeleireira que mos ponha, mas às quatro tens de ser tu”. A operação que fez na semana passada às cataratas de uma vista obriga a esta rotina.
Deixei-a na cabeleireira e voltei às três e meia. “Mas que grande corte! Está bonita” – disse eu. “Estava mesmo a precisar… Fiz tudo, cabelo, depilação e mãos! Mandei vir o almoço do restaurante moçambicano e comi no cabeleireiro, soube-me muito bem!”
Depois da série de três pingos com intervalos de cinco minutos, entrou no centro de saúde às quatro em ponto. As cinco e meia, telefonou-me: “Saí agora da médica, podes vir buscar-me. Sabes lá, esperei uma hora para ser atendida!
À porta do cento de saúde, recebi mais umas instruções: “Se não te importas, levas-me ali ao supermercado, preciso de fazer umas compras. Mas antes pões-me os pingos das seis".
E assim foi, depois de lhe pôr os pingos, entrámos no supermercado para as compras que só gosta de fazer naquela loja… Já passava bem das seis e meia da tarde quando a deixei em casa.
"Obrigada e até amanhã, filho. Amanhã espero por ti ao meio-dia” – lembrou, não fosse eu esquecer-me do teste à covid para a operação à outra vista na sexta.
A agenda de uma senhora com noventa e três anos é muito cansativa!
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