terça-feira, 3 de novembro de 2020

Election Day



Primeiro eram as personagens e as paisagens do faroeste das histórias de quadradinhos do Cavaleiro Andante. Nos primeiros anos do liceu eram os mapas e as fotografias do “Novo Atlas Escolar Português” de João Soares e era a terra de emigração sonhada pelo amigo Joninho. Alguns anos depois passou a ser o país onde faziam a música que gostava de ouvir, da luta pelos direitos civis e dos protestos estudantis contra a guerra que os militares faziam no Vietnam.

A partir de Novembro de 1974, embarcado e a navegar num navio da Marinha de Guerra dos EUA, num tempo em que as comunicações com Portugal eram muito difíceis, foi a imersão total na cultura e modo de vida norte-americanos. Durante seis meses comia comida dos EUA, via filmes dos EUA, via televisão dos EUA, lia jornais dos EUA, sentia-me nos EUA, quer estivesse a navegar, fundeado ou atracado em Gibraltar, em Espanha, em França ou em Itália. A informação sobre Portugal era muito escassa e restringia-se às cartas e aos recortes de jornais que recebia de Lisboa e às notícias vindas dos EUA sobre o medo do que os norte-americanos chamavam de maré comunista.


Nesses seis meses que coincidiram com um turbilhão de acontecimentos mundiais, vivi ao lado de norte-americanos as ondas de choque provocadas pela resignação de Nixon, pelo desaire na guerra no Vietname e pela queda de Saigão. Percebi ao ler pouco tempo depois o livro “The Final Days” e a descrição do episódio de choro e soluços de Nixon ajoelhado no chão do gabinete presidencial, como eram frágeis os presidentes dos EUA e o sistema eleitoral que os elegia.



Depois foi a pós-graduação na Califórnia, viver mais de dois anos com a família o dia-a-dia dos norte-americanos, conhecer um sistema de ensino muito melhor que o português, recordar no campus da UC Berkeley o activismo pela liberdade de expressão e contra a guerra do Vietname, sentir os efeitos sociais e económicos da crise petrolífera, sofrer o assédio dos nacionalistas durante a crise dos reféns em Teerão, conhecer por dentro as qualidades e os defeitos, as forças e as fraquezas de um país e de um povo tão fascinantes e poderosos como frágeis.

Quiseram as circunstâncias profissionais e pessoais que, desde então, nunca deixasse de aprofundar o conhecimento e as ligações aos EUA e ao seu povo. Em 2016 entristeceu-me a eleição de Trump mas não me surpreendeu. Assim como não me surpreenderá a reeleição em 2020 de uma personagem com tantos defeitos e tantos delitos fiscais e financeiros que se perder as eleições corre o risco de falir ou ter problemas sérios com a justiça.

Mas apesar de saber que Biden é tão fraco como os outros presidentes norte-americanos que conheci e que o sistema político e eleitoral norte-americano não produzirá melhor do que ele, gostaria que amanhã o colégio eleitoral lhe fosse favorável.

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