Foto Rui Oliveira |
Facto de viver, de ter vida; existência. Experiência de vida. Processo psicológico consciente no qual o indivíduo adopta uma posição valorizante, sintética, que não é apenas passiva e emocional, pois inclui também uma participação intelectual activa. O conhecimento adquirido através da experiência vivida. Não é lido, não é contado, é experimentado.
sexta-feira, 27 de dezembro de 2019
Mafalda
domingo, 1 de dezembro de 2019
A Fábrica de Santa Catarina
... ou divagações a propósito de umas conservas de atum.
Há uns dois anos a Joana trouxe-me dos Açores duas latas de filetes de atum com temperos da marca Santa Catarina. Não conhecia mas gostei da embalagem e do conteúdo. Interessei-me pela origem, a ilha de São Jorge, que conheci como João de Melo descreveu: “a ilha mais profundamente ilha dos Açores”.
Gostei de saber que o atum era pescado por “Salto e Vara”, uma arte de
pesca tradicional pouco predadora, que preserva a vida e o habitat dos
golfinhos e permite aos pescadores capturarem apenas o peixe necessário sem pôr
em risco outras espécies ou peixes mais pequenos. Por isso procurei perceber a
história da fábrica que produzia tal produto de qualidade, num concelho e numa
ilha com uma população de 3 773 e 9 171 habitantes, respectivamente (censo de
2011).
Recursos humanos |
Aprendi que a Fábrica de Santa Catarina, na Calheta, existe desde 1940. Que em 1995 foi desactivada pela Sociedade Corretora de São Miguel e reactivada com o apoio do município da Calheta.
Que faliu em 2009 e o governo regional comprou-a por 1 euro e transformou-a numa empresa de capitais públicos por intervenção da Lotaçor - Serviço de Lotas dos Açores, para evitar o encerramento. Que é o principal empregador de São Jorge, na sua maioria mulheres que dificilmente encontrariam trabalho remunerado noutra área. Que o financiamento do governo regional de cerca de 13 milhões de euros para que se mantivesse em laboração desde então foi considerado contrário às regras europeias e denunciado pelos concorrentes.
Que por ter 100% de capital público não é elegível para apoios do Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas.
Que segundo o relatório de contas de 2018 a dívida aos fornecedores é de 3,3 milhões de euros. Que o governo regional tenciona privatizar 80% do capital da Santa Catarina e que a sua recuperação requer um investimento da ordem dos 6 milhões de euros.
Que há dias a Associação de Armadores da Pesca
Artesanal do Pico se queixava que cinco dos seus associados não conseguiam
receber valores que variam entre 20 e 50 mil euros correspondentes ao atum
vendido durante a última safra à fábrica de Santa Catarina.
Trabalhadoras da fábrica de Santa Catarina |
Sempre que encontro conservas Santa Catarina no supermercado, compro.
terça-feira, 29 de outubro de 2019
"Anda comigo ver os aviões"
segunda-feira, 28 de outubro de 2019
Puzzle
terça-feira, 3 de setembro de 2019
De que lado estás?
Estes novos grupos e intérpretes que revolucionaram a folk music norte-americana eram inspirados e acompanhados por cantores veteranos como Pete Seeger, um activista censurado pelo macartismo na década de 1950. Canções repudiadas como "commie crap" nos anos 40 voltaram a ocupar as posições cimeiras das tabelas musicais. Entre elas estava a que talvez seja o hino mais duradouro do movimento operário norte-americano e o padrão das canções de protesto em língua inglesa durante décadas: “Which Side Are You On?”
A letra de “Which Side Are You On?” foi escrita em Fevereiro de 1931 por Florence Reece, mulher do organizador de uma greve de mineiros contra a redução unilateral de 10% do salário pela associação patronal, depois de a sua casa ser assaltada e ocupada pelo sheriff ao serviço dos patrões. Florence e os seus sete filhos foram sequestrados pelo sheriff e os seus homens enquanto esperavam pelo marido para o abaterem. Felizmente Sam Reece não voltou a casa naquela noite e na manhã seguinte Florence, revoltada, escreveu a letra para “Which Side Are You On?”, usando a melodia de uma balada tradicional que conta a história de uma jovem mulher que se veste de homem, alista num navio e participa em combates, em busca do namorado que tinha partido para a guerra.
Ao longo dos anos, “Which Side Are You On?” foi recriada e adaptada por inúmeros artistas sempre que esteve em causa a luta contra a desigualdade. Mas foram as versões de Peter Seger que a imortalizaram e que me inspiraram no final da década de 1960. Continuo a gostar dessas versões, mas hoje, talvez efeito da passagem dos anos, delicio-me também com a suavidade da interpretação de Natalie Merchant.
Mas qualquer que seja a versão que ouça, continuo a sentir o título da canção. Tal como quando foi criada há quase 90 anos, ou quando a conheci há 50 anos, se as coisas correm mal é necessário escolher um lado. Por isso hoje, quando a democracia enfrenta novos desafios, a liberdade é posta em causa e se acentuam as desigualdades resultantes de políticas erradas, volta a ser necessário escolher um lado, escolher entre o lado do ódio e da exclusão e o lado da justiça, da inclusão e da democracia.
E tu, de que lado estás? Consciente e serenamente, com a serenidade que a voz de Natalie Merchant transmite, é tempo de cada um de nós voltar a escolher um lado.
sexta-feira, 2 de agosto de 2019
Muito prazer, José Afonso
Capa do Binómio n.º 35 de 2 de Novembro de 1968 |
Página 4 do n.º 35 de 2 de Novembro de 1968 |
Página 14 do n.º 35 de 2 de Novembro de 1968 |
quinta-feira, 18 de julho de 2019
O nosso Navio
segunda-feira, 8 de julho de 2019
Inquietações cívicas
quinta-feira, 6 de junho de 2019
Uma lição de vida
A ensinar a natureza ao Tomás.* |
Ensinou-me botânica, biologia, filosofia, sociologia, política, relações humanas, eu sei lá quantas outras disciplinas, sempre pelo exemplo que, bem sabemos, é o método mais eficaz.
Ensinou-me que sem estudo, persistência e trabalho, a vida não oferece nada que a torne valiosa.
Ensinou-me que a preocupação com o bem-estar dos outros é muito mais compensadora que a preocupação com o nosso próprio bem-estar. Ensinou-me, por exemplo, que os frutos que renunciamos para dar aos filhos e aos netos são mais saborosos na boca deles.
Ensinou-me a gostar de estar com a família e os amigos à volta de uma mesa, com comida preparada em conjunto para ser compartilhada com histórias, pensamentos, esperanças e apreensões.
Ensinou-me que os melhores presentes requerem esforço e sacrifício de quem oferece e que, normalmente, o dinheiro não os pode comprar. Ensinou-me que mostrar disponibilidade para participar, para ajudar, é o bem mais valioso que se pode oferecer.
Ensinou-me a importância do carácter e do empenho persistente dos recursos interiores e a insignificância dos adornos e engenhocas que podemos comprar, por mais caros que sejam. Ensinou-me que a identidade não se adquire com a exposição pública de fatiotas, marcas ou logos cujo preço depende da “posição social” reconhecida por um certo tipo de “sociedade”.
Ensinou-me que cada um de nós é o resultado da acumulação de muitas e diversas experiências, agradáveis ou dolorosas, ao longo da vida. Ensinou-me que não devemos aceitar a anulação periódica do passado para fazer renascer um novo “eu” diferente e mais atraente, feito de encomenda de acordo com a moda, como se a vida fosse uma sucessão de novas oportunidades e novos inícios, uma sucessão de episódios independentes, cada um com enredo, personagens e final próprios.
Ensinou-me que muito do que é essencial para nos sentirmos felizes não tem preço de mercado nem pode ser adquirido com dinheiro ou a crédito numa qualquer plataforma ou superfície comercial. Ensinou-me por isso a importância dos laços familiares e da vida doméstica; do amor e da amizade; do orgulho pelo trabalho bem feito, pela superação individual e pelo reconhecimento dos pares e dos outros; da satisfação de ouvir e tentar ajudar os outros, de com eles cooperar; do estudo e da reflexão demorada, num ambiente agradável e relaxado.
Ensinou-me os benefícios de procurar fazer a diferença na sociedade, de deixar alguma marca, de viver para o outro, de recusar a solidão da preocupação com nós próprios. Ensinou-me que o sucesso e a duração dos relacionamentos pessoais estão intimamente ligados ao compromisso de serem mantidos apesar das adversidades e do que quer que aconteça.
Ensinou-me, acima de tudo, que a vida é uma obra em constante construção; que para a viver devemos estabelecer desafios difíceis de realizar, escolher objectivos muito para lá do nosso alcance, adoptar padrões de comportamento acima da nossa capacidade, tentar sempre o impossível.
Sei que não aprendi todas as lições, que não fui capaz de manter todos os padrões, atingir todos os objectivos e estar à altura de todos os desafios mas a responsabilidade não é do professor porque esse foi, sem sombra de dúvida, o melhor que podia ter tido.
O meu Pai foi o meu melhor professor e faria hoje 95 anos.
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* O Tomás teria uma idade próxima da actual do Miguel, o bisneto que mais desejou e não conheceu. Suspeito que se perguntar ao Miguel quem está na fotografia, ele dirá: "Eu e o avô Aníbal!"
domingo, 12 de maio de 2019
A vingança
segunda-feira, 22 de abril de 2019
A outra senha do 25 de Abril
Gritar
Que é já tempo
D'embalar a trouxa
E zarpar”
sábado, 20 de abril de 2019
Benjamim Inácio Garcia
Uma pena de dois anos depois de sete no Tarrafal
Benjamim Inácio Garcia |
Ficha da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE) |
sábado, 13 de abril de 2019
Programa do Movimento das Forças Armadas
Documento apresentado na exposição organizada pelo Arquivo Histórico da Presidência da República, em 13 de dezembro de 2012. |
A resposta é sim quando falamos apenas da operação militar do dia 25 de Abril de 1974. A rapidez da decisão de avançar para o derrube do regime através de uma operação militar, a preparação dessa operação e a forma como foi executada, foram certamente uma surpresa, e dela há testemunhos claros do lado derrotado. Uma surpresa que se deve à competência e experiência de oficiais do Exército habituados a conduzir uma guerra com grande autonomia na tomada de decisões e na sua concretização. E que explica que no final do dia 24 de Abril de 1974, numa recepção na embaixada da RFA onde estavam, calmos e descontraídos, Silva Cunha, ministro da Defesa Nacional, Rui Patrício, ministro dos Negócios Estrangeiros e Moreira Baptista, ministro do Interior, este último tenha dito que não estava preocupado com o mal-estar nas Forças Armadas e que o Silva Pais, director da PIDE/DGS, o teria informado que esperava apenas problemas no 1º de Maio, mas nada de especial; e que o mesmo Silva Pais tenha telefonado ao Silva Cunha às 3h30 de 25 dizendo – Pode dormir descansado, Sr. Ministro.
A resposta é não, não foi surpresa, quando falamos da percepção generalizada de que algo estava para acontecer em qualquer momento. Era voz corrente nos círculos mais ou menos próximos do poder, assim como nas tertúlias dos cafés da Grande Lisboa, que estava para ocorrer um golpe militar. Independentemente do grau de conhecimento de cada opinante, posso assegurar que esse era um dado adquirido nas mesas do São Jorge em Carcavelos, o café que então frequentava depois do jantar. Aliás a natureza semi-aberta do Movimento dos Capitães, os vários abaixo-assinados e os comunicados que difundiu nos meses que antecederam a operação militar, não permitem supor que o governo e a sua segurança interna desconhecessem o que se passava, por mais incompetentes que pudessem ser, o que também não é seguro que fossem.
Então porque é que o regime não se preparou para resistir e neutralizar o golpe militar? A questão terá várias respostas mas eu tendo a concordar com a explicação dada pelo meu camarada Almada Contreiras no livro “Operação Viragem Histórica”: o desconhecimento ou pouca importância dada ao documento que veio a ser o “Programa do Movimento das Forças Armadas” e a convicção dos responsáveis de que seriam apenas a liderança e as teses do general Spínola expressas no livro “Portugal e o Futuro”, teses aliás comungadas por sectores do regime próximos das cúpulas militares, que inspiravam os capitães.
O próprio general Spínola, a quem o programa foi apresentado com antecedência e nele fez cortes e introduziu alterações, terá provavelmente pensado que não passava de mais um papel e que depois do golpe prevaleceriam as suas teses, o seu poder pessoal e a sua rede de seguidores. Quando na noite de 25 foi obrigado a adoptar o Programa do MFA como programa da Junta de Salvação Nacional, ainda fez cortes e introduziu alterações de última hora que acabaram por se revelar negativas. As relativas à libertação dos presos políticos e à neutralização da PIDE/DGS serviram para a atrasar até 27 de Abril; a eliminação da alínea onde constava o “Claro reconhecimento dos Povos à autodeterminação e adopção acelerada de medidas tendentes à autonomia administrativa e política dos territórios ultramarinos, com efectiva e larga participação das populações autóctones”, causou dificuldades muito graves na resolução do problema colonial.