Facto de viver, de ter vida; existência. Experiência de vida. Processo psicológico consciente no qual o indivíduo adopta uma posição valorizante, sintética, que não é apenas passiva e emocional, pois inclui também uma participação intelectual activa. O conhecimento adquirido através da experiência vivida. Não é lido, não é contado, é experimentado.
terça-feira, 21 de novembro de 2023
O Festival
domingo, 12 de novembro de 2023
domingo, 10 de setembro de 2023
quarta-feira, 30 de agosto de 2023
O ardil da memória
segunda-feira, 21 de agosto de 2023
Lugares
Texto escrito e lido pela Catarina na despedida da Avó:
A árvore está enraizada no cimo de um monte perto de uma aldeia perdida no orgulho de quem por lá vive, caiando as casas, podando os pomares e canteiros, mantendo as ruas para que quem os visite, encontre um lugar acolhedor e belo.
Ao som dos sinos da pequena capelinha os netos sobem à vez para o baloiço artesanal pendurado na oficina da casa. O avô encontra em todos os objectos e pequenos seres uma forma de explicar a vida. A avó atarefa-se nos infindáveis afazeres domésticos, que dão ordem e paz ao dia-a-dia. Os netos vivem cada experiência como uma aventura inesquecível e percorrem os trilhos e montes, descobrindo infortunados sapos e frutos apetecíveis.
A casa tem uma adega, símbolo e memória de outros tempos, onde se pisavam as uvas de pés descalços e se cantavam músicas da terra para marcar compassos. Nas salas permanecem molduras imóveis com imagens imóveis de quem deixou marcas e foi marcado pela vida. Num corredor existe uma pequena porta com umas pequenas escadas até um pequeno sótão, onde de uma pequena janela surge, ao longe, a árvore enraizada no cimo do monte.
Quando a lua aparece e o sol se despede, os netos trepam o monte e sentam-se na copa da árvore. Ali encontram a serenidade do campo e o cheiro da terra. Partilham a descoberta da imensidão da paisagem visível a partir daquele lugar e sabem que, aquele é, apenas o início.
quinta-feira, 17 de agosto de 2023
A nossa força
segunda-feira, 14 de agosto de 2023
Anamnese
quarta-feira, 14 de junho de 2023
Semear Abril
quinta-feira, 27 de abril de 2023
Abrilimagem
Disse Saramago que “nós estamos constantemente a (re)elaborar a nossa memória. Não quer dizer que a transformemos noutra coisa, não quer dizer que as transformemos em memórias diferentes, mas transformamo-las em memórias de memórias.” Foi o que senti quando o motor de busca do Google mostrou, por acaso, uma imagem que me fez recuar a Abril de 1980.
A imagem, mais propriamente a Abrilimagem, é de uma colagem de Marcelino Vespeira de recortes de cartazes da Dinamização Cultural e da serigrafia de António Inverno (o Vespeira marcou bem a diferença entre os dois objectos artísticos), criada para comemorar o 6º Aniversário do 25 de Abril. Foram impressas 150 serigrafias com 54x34 cm assinadas por Vespeira e 1000 miniaturas com 18x27 cm e legenda, tal como a reproduzida na imagem.
A Abrilimagem foi a primeira de uma série de serigrafias de grandes artistas, editadas pelo Clube Militar Naval para comemorar o 25 de Abril. As miniaturas foram entregues a quem veio festejar a noite de 24 para 25 de Abril nesse ano de 1980, nas antigas instalações do CMN no Marquês de Pombal.
Lembro-me particularmente bem das comemorações desse ano no CMN. Acabado de regressar de uma estadia de mais de dois anos nos EUA, fazia parte da recém-eleita Direcção. O Comandante Duarte Costa, meu professor na Escola Naval e meu comandante na corveta “António Enes” onde vivemos os tempos conturbados do Verão de 1975 no Continente e do Inverno de 1975/76 nos Açores, entendeu por bem convidar-me apesar de eu não ser um frequentador do CMN. Como é natural, aceitei sem hesitar e com o espírito de missão que ele me ensinou.
Se nunca fui dado a actividades sociais, naquela altura estava ainda mais afastado de tudo o que era o mundo político e artístico lisboeta e não sabia quem era quem na sociedade da época. Mais de dois anos a estudar na Califórnia, num tempo em que as comunicações em nada se comparavam com as actuais, era como viver noutra galáxia. De Portugal chegava apenas o que a família e os amigos escreviam, mas era inevitavelmente pouco.
Por isso, quando na noite de 24 para 25 de Abril de 1980 estive na porta do CMN, com outros camaradas da Direcção, a receber os convidados e a controlar as entradas de milhares de pessoas que queriam marcar presença no que então era o local mais “in” para celebrar o 25 de Abril, a maioria dos que entravam, muitos acompanhados de cortes numerosas, eram perfeitos desconhecidos.
Ao longo da noite apareceram os mais e os menos famosos, os mais e os menos importantes, os mais e os menos familiares dos famosos, os mais e os menos amigos dos importantes, e nós tivemos de arranjar maneira de evitar que um espaço que se encheu rapidamente nas primeiras horas, se tornasse ainda mais sobrelotado e perigoso. Muitos ficaram na rua e acabaram por desistir. Não sei se contou como marcação do ponto no evento, mas foi inevitável dadas as características do edifício.
Hoje não é fácil descrever o que então se passou. Só quem lá esteve tem ideia do fervor abrilista que muitos procuravam mostrar. E quem viveu essa noite de 1980, não de 1974 ou 1975, não pode deixar de sorrir quando mais de quarenta anos depois, ouve alguns dizerem que só se libertaram do poder dos militares em 1982. Se se sentiam oprimidos pelos militares, não se notava nada...
António Pedro da Silva Chora Barroso |
Só mais tarde reconheci a qualidade do seu trabalho. E fiquei com pena de não ter insistido que entrasse. Teria gostado de o ver actuar.
terça-feira, 18 de abril de 2023
A Casa e o Forte
Foto Ezequiel Santos |
Viu os presos de delito comum construírem os novos blocos
prisionais. Três pavilhões, o A, o B e o C, arquitectados a pensar nos presos
políticos. É verdade que outros prisioneiros já tinham passado pela fortaleza,
alemães e austríacos na Grande Guerra, portugueses com o Estado Novo. Mas agora
era uma cadeia a sério, de alta segurança.
O Forte, orgulhoso da sua nova condição, continuou a contar
à Casa tudo que se passava no seu interior, agora ainda com mais detalhes. E a
Casa, curiosa, ouvia-o do outro lado do Campo da Torre e partilhava com ele o
que via e ouvia, dentro e fora das suas paredes. Mas nenhum deles, ao longo de
décadas, alguma vez revelou a terceiros os segredos que trocaram.
Eu bem tentei que Casa me contasse alguns, mas ela até hoje
não me fez a vontade. Guardou para si tudo o que o Forte lhe contou, com o
mesmo cuidado com que guardou e guarda os segredos de cinco gerações da família
que a habita. Guardou para si as histórias dos presos e da cadeia, os
pormenores da fuga de Janeiro de 1960, as conversas dos pides que passaram a
abrigar-se junto a ela nas vigílias noturnas, as entradas e saídas das visitas
dos presos e até a libertação deles depois do 25 de Abril de 1974.
A Casa soube, porque o Forte lhe disse, da preocupação dos
presos e dos guardas quando receberam as primeiras notícias do golpe militar em
Lisboa. Assistiu à chegada dos militares do RI10[1]
de Aveiro no início da manhã de 25[2],
convencidos que as forças do RAP3[3]
e CICA2[4],
que com eles e o RI14[5]
constituam o “Agrupamento NOVEMBER”, já tinham tomado a cadeia do Forte.
Surpreendeu-se com a rapidez com que os feirantes
desmontaram as bancas e as tendas da tradicional feira da última quinta-feira
do mês no Campo da Torre, depois de terem recebido ordem para abandonarem o
espaço em cinco minutos.
Testemunhou a surpresa do Tenente da GNR que comandava o
destacamento responsável pela segurança da cadeia quando o comandante da
companhia do RI10 bateu à porta e exigiu a rendição. Assistiu ao cerco do
Forte pela força do CICA2, maioritariamente constituída por recrutas, depois da partida
das restantes forças do agrupamento para Lisboa.
Mas quando lhe pedi que pelo menos me contasse a libertação
dos presos políticos, a Casa e o Forte fecharam-se em copas e nada disseram. Se
não fossem os dois amigos Carlos, o Machado dos Santos do lado dos
“libertadores”[6] e o
Saraiva da Costa do lado dos “libertados”[7],
só muito dificilmente teria sabido os detalhes do que se passou no Forte
naqueles dois dias.
No dia 25 de Abril de 1974 estavam 36 presos políticos no Forte. O “Carlos libertado” estava no pavilhão B, reservado aos
presos políticos das organizações maoistas, da LUAR e oriundos das então
colónias africanas. Às 8 horas da manhã do dia 25, ele e alguns dos seus
companheiros notaram que o aparelho de rádio fora silenciado. “Uma avaria, já
está a ser reparada", explicou o guarda de serviço ao pavilhão. O dia
anunciava-se de grande tensão porque iam iniciar uma greve de fome de
solidariedade com os presos de Caxias que se encontravam em luta contra as
condições prisionais.
Por volta das 11 horas aperceberam-se que a RTP transmitia
marchas militares e recearam um golpe militar do Kaúlza de Arriaga. Quando às
13 horas as visitas não foram autorizadas a entrar, insistiram junto do chefe
dos guardas que acabou por confessar que ocorrera em Lisboa um levantamento
militar, que o Governo de Marcello Caetano fora deposto e que foram detidos os
principais responsáveis do regime. Atribuiu a direção do golpe militar a um tal
MFA e ao general Spínola.
Receosos de serem utilizados como reféns, os presos
políticos romperam o diálogo com as forças prisionais e ergueram barricadas.
Exigiam a libertação imediata e por ela mantiveram-se barricados até cerca das
16 horas do dia 26.
A essa hora, na Cova da Moura[8],
em Lisboa, o Coronel Vasco Gonçalves entrou no gabinete onde estavam os
oficiais da Armada e pediu um voluntário para participar na libertação dos
presos políticos do Forte de Peniche. O Capitão-tenente Machado dos Santos, o
“Carlos libertador”, ofereceu-se para a missão e, com o Major Moreira de
Azevedo, foi levado por Vasco Gonçalves à presença do General Spínola.
Spínola, depois de uma dissertação sobre as limitações que
impunha à libertação dos presos − os que estivessem acusados de crimes tais como homicídio, assalto a bancos, falsificação de documentos, não seriam libertados − e de um murro na mesa depois do
“Carlos libertador” o contrariar, ordenou que os dois oficiais partissem de
imediato para Peniche, acompanhados de três advogados que resolveriam todas as
questões jurídicas.
Feita a viagem no Mercedes do ex-Ministro da Defesa, o grupo
chegou ao Campo da Torre por volta das 22 horas, onde cerca de um milhar de
populares e de familiares dos presos os aplaudiram e criticaram por virem
tarde. Bateram à porta do Forte e foram recebidos pelo tenente da GNR que comandava a guarnição que ali se manteve após a ocupação.
Quando se aperceberam que o comandante da força do Exército que
tinha ocupado o Forte não se encontrava em condições de poder colaborar,
substituíram-no pelo seu segundo numa espécie de tribunal que foi constituído
no gabinete do Director da prisão: o “Carlos libertador” a presidir, o segundo
da Companhia do Exército à sua esquerda e os três advogados nomeados por
Spínola à sua direita.
Chamado o primeiro preso, o “Carlos libertador” fez sentir
aos advogados que não estavam ali a fazer nada pelo que o processo de
libertação avançou rapidamente até chegarem aos quatro presos acusados de
crimes de sangue: Francisco Martins Rodrigues, João Pulido Valente e Rui
d'Espiney, ligados à FAP (Frente de Acção Popular), por causa da execução de um
informador da PIDE que os denunciara e Filipe Viegas Aleixo, envolvido no
assalto ao paquete Santa Maria, na noite de 21 para 22 de janeiro de 1961.
Depois de terem saído os presos ligados ao PCP, encarcerados
nos outros pavilhões, os presos do pavilhão B, onde estava o “Carlos
libertado”, decidiram unanimemente: "Ou saímos todos ou não sai
ninguém!" E assim, de facto, aconteceu. Só depois de o “Carlos libertador”
ter proposto que fosse lavrado um termo de responsabilidade, em papel timbrado
da prisão e em triplicado, assinado por Moreira de Azevedo, Machado dos Santos
e o advogado Macaísta Malheiros, que declarou que os três presos acusados de
crimes de sangue permaneceriam na sua residência particular, em Lisboa, nos
Olivais, aguardando decisão definitiva da Junta de Salvação Nacional, é que o
processo de libertação foi concluído.
E foi assim que, já no dia 27, a Casa viu sair do Forte
todos os restantes presos políticos para receberem o abraço inesquecível do
povo de Peniche. E soube que o Tenente da GNR, antes do regresso do grupo a
Lisboa no Mercedes ministerial, convidou os dois oficiais e os três advogados a
atacar uma ceia de peixe acabado de chegar do mar e assado “in loco”,
acompanhado pelos adequados complementos sólidos e líquidos.
A Casa e o Forte não souberam, mas eu soube porque o “Carlos
libertador” contou, que no dia 27 à tarde, os dois oficiais do MFA foram à Cova
da Moura procurar o General Spínola para relatarem a missão e colocarem a
questão dos libertados condicionais.
Só encontraram o Almirante Rosa Coutinho, que tendo presenciado a cena da véspera e ao lhe ser apresentado o termo de responsabilidade de Macaísta Malheiro, nele escreveu e assinou um despacho de prescrição da custódia, enquanto dizia: “Sabem, isto está a andar muito mais depressa do que aquilo que se previa!”
[1] Regimento
de Infantaria N.º 10 – Aveiro.
[2] CONTREIRAS,
Carlos de Almada. Operação “Viragem Histórica” - 25 de Abril de 1974 (1ª
Edição), pág. 287. Edições Colibri, 2017.
[3] Regimento
de Artilharia Pesada N.º 3 – Figueira da Foz.
[4] Centro
de Instrução de Condução Auto Nº 2 – Figueira da Foz.
[5] Regimento
de Infantaria N.º 14 – Viseu.
[6] CONTREIRAS,
Carlos de Almada. Operação “Viragem Histórica” - 25 de Abril de 1974 (1ª
Edição), pág. 636. Edições Colibri, 2017.
[7] COSTA, Carlos
Saraiva da. Os "últimos dias" de Peniche. Diário de Notícias,
27 Abril 2019
(https://www.dn.pt/poder/os-ultimos-dias-de-peniche-10838196.html).
[8] Palácio
da Cova da Moura, sede da Junta de Salvação Nacional.
sábado, 18 de março de 2023
As lições do Comandante Saturnino Monteiro
Escola Naval - 25 de Novembro de 2010 |
quarta-feira, 8 de março de 2023
A cadela que morava na lua
The dog who lived on the moon
Once upon a
time there was a female dog that lived on the moon. She was a very curious and
playful dog, who liked to explore the lunar surface. She played with everything
she found, although there was not much to play with on the moon. She picked up
the rocks, threw them in the air, ran to catch them, but little else she could
do.
The dog
that lived on the moon looked at the stars in the sky and imagined they were
the friends she didn't have on the moon. She dreamed that one day she would go
with them and if she thought so, better she did. She built a spaceship and
headed towards the blue ball she saw in the sky.
When she
arrived, she opened the door of the ship and saw a boy running towards her,
smiling. Surprised, she ran to him and barked.
– Hello,
little friend, I'm Miguel! Who are you, what's your name? – asked the boy.
– I come
from the moon – answered the dog, wagging her tail.
– Wow,
that's amazing! Then I'll call you Lua, because that means moon in my language! – decided Miguel.
– Okay, I
like it, it's a beautiful name! And what place is this? – asked Lua, always
curious.
– This is
Earth and if you want to come with me, I'll show you what's here – said Miguel.
– Oh, yes!
Let's go! – said Lua, jumping with joy.
Lua and
Miguel liked each other right away. Miguel showed Lua the trees, flowers,
animals, mountains, valleys, seas, and beaches of Earth. He introduced Lua to
his friends, parents, and siblings, who were very happy to meet a visitor from
the moon.
Lua and Miguel
had a lot of fun and became best friends. They played ball, made constructions,
told stories, and sang songs. They also learned from each other. Lua taught
Miguel about life on the moon, Miguel taught Lua about life on Earth.
But when
Miguel went to school, Lua went back to being alone, with no one to play with.
So Miguel's mother took Lua to work to be with children who lived alone and
didn't know how to play. And Lua, always playful, taught them how to play. And
they were very happy.
From then on, every day, Lua and Miguel hugged and said goodbye. Miguel went to school and Lua went to play with the children who lived alone. Until they met again at the end of the day and, together, looked at the stars in the sky.
segunda-feira, 6 de março de 2023
A queda de um mito
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023
Bodas de ouro