Em 1975 e 1976 estive embarcado na corveta “António Enes” sob o comando
do Comandante Francisco Duarte Costa. Foi um período muito rico do ponto de vista profissional mas politicamente agitado,
primeiro no Continente e depois nos Açores.
Chegámos a Ponta Delgada na véspera da manifestação de 17 de
Novembro de 1975, em princípio uma reedição da manifestação de 6 de Junho. A informação que
tínhamos era que a FLA tencionava declarar a independência hasteando a bandeira
no palácio do governador. Depois de um Verão agitado no Continente, caímos no centro do movimento independentista que estava muito activo em São
Miguel e, em especial, em Ponta Delgada.
Embora os activistas da FLA, ou do que resta dela, ainda hoje digam que saíram para a rua umas 15 mil pessoas (no 6 de Junho teriam
participado 10 mil), os objectivos políticos não foram atingidos. A bordo da
corveta estávamos preparados para usar as mangueiras de incêndio como dissuasor
caso houvesse uma provocação, mas nada de extraordinário aconteceu para as
bandas do porto de mar.
Depois desta estreia atribulada, a agitação política em
Ponta Delgada foi acalmando e conseguíamos fazer uma vida quase normal sempre
que por lá passávamos. A guarnição tinha instruções para evitar dois cafés
frequentados por provocadores da FLA, o Lys e o Royal, para evitar confrontos, mas não me recordo de qualquer incidente grave.
Ultrapassados os poucos episódios desagradáveis em Ponta
Delgada (era o tempo das pichagens “Fragatas fora dos Açores”), aproveitávamos todos
os períodos em terra para conhecer as ilhas, as suas gentes e a sua cultura.
E hoje, quarenta e seis anos depois, o Comandante Duarte
Costa decidiu enviar-me a cópia de uma página do seu arquivo pessoal onde
aparece a foto de um passeio à Ribeira Grande, tirada pelo Ten. Ortigão Neves.
Para além do Comandante Duarte Costa à direita da foto, lá está o Imediato
Patrício Leitão a engraxar os sapatos e eu.
Magnífica recordação!