Esta fotografia de Mário Novais da colecção da Fundação Calouste Gulbenkian foi tirada em 1935 ou 36, durante a construção do edifício de comando e das salas de aula da Escola Naval. Os edifícios do refeitório, da biblioteca e do internato já estavam construídos e provavelmente o fotógrafo resolveu registar a imagem de uma camarata pronta, à espera dos futuros ocupantes.
Quando há 50 anos entrei na Escola Naval, pude constatar que as camaratas não sofreram uma grande evolução durante três décadas e meia. As mesmas paredes despidas, os mesmos lavatórios, os mesmos armários, as mesmas secretárias. Observando a fotografia, só consigo detectar duas diferenças: as camas originais foram substituídas por beliches duplos para alojarem mais cadetes e instalaram um aquecedor do sistema de aquecimento central debaixo do parapeito da janela.
Para os cadetes, o aquecedor junto à janela tinha duas funções importantes: uma óbvia, atenuar o frio do inverno e secar a roupa (a chuva civil não molhava os militares, mas molhava a nossa roupa), e uma outra bem menos óbvia. É que fazer a barba com a água gelada dos lavatórios era desconfortável e por isso usávamos a purga do aquecedor para obter água quente.
Nunca falei com encarregado, mas imagino que teria de repor o nível de água da instalação todas as manhãs pois não seriam poucos os que usavam a mesma técnica para obter um barbear mais confortável. E quando mais tarde aprendi que se adicionava óleo solúvel aos circuitos de aquecimento, percebi que não era só a água quente que facilitava o escanhoar.
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