Fui conversar sobre o Moçambique da minha infância com alunos do secundário de uma escola de Oeiras.
Na preparação da conversa procurei os vestígios das minhas memórias primordiais, das memórias dos meus pais, dos meus avós e de quem conheceu e estudou a realidade do Moçambique colonial. Parti da tragédia das cheias para falar da topologia do território, dos seus povos, das suas culturas, do comércio de escravos, dos 'prazos' e das companhias concessionárias, da administração colonial, das políticas desenhadas na metrópole para os “indígenas”, dos episódios vividos nas escolas e nas ruas de Inhambane e de Quelimane, da luta do meu pai para apoiar os cafeicultores, etc. Foi para mim um exercício enriquecedor mas, no final, interroguei-me se teria sido útil para os alunos.
Uma das professoras disse-me depois que fez a “avaliação da ‘aula’ e os miúdos mostraram-se muito agradados, tendo uma aluna comentado que continuamos com uma história ‘oficial’, demasiado eurocêntrica, onde se estudam as descobertas (ainda à Estado Novo) e onde a colonização é um conceito abstrato, somente económico...” Agradeceu-me ter “tornado a colonização uma realidade concreta, humanizada, e ter permitido tão grande aprendizagem através das memórias pessoais.” Concluiu que já estava “contratado” para o próximo ano!
Claro que depois desta avaliação, terei muito gosto em voltar para o ano!
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