Namaacha, Natal de 1957 |
O miúdo gostava do Natal. Por muitas razões, sabe-se lá qual
a mais importante.
Era uma época em que sentia os pais ainda mais felizes. Estivesse
a família onde estivesse, fosse em Lourenço Marques, em Inhambane, em Palhais,
na Namaacha ou em Quelimane, era sempre um tempo de alegria.
Os pais diziam que naquela noite vinha o menino Jesus e que deixava
prendas para quem se portasse bem. Para o receberem, adultos e crianças, preparavam
um presépio com os materiais apanhados no mato. Faziam o melhor que sabiam e podiam para criar o presépio mais bonito
das redondezas.
E a verdade é que, fosse pela beleza do presépio ou fosse pelo comportamento do miúdo, ano após ano, fizesse calor ou fizesse frio, em Moçambique
ou em Portugal, o menino Jesus não falhava. Em cada dia de Natal, ao acordar, o
miúdo ia espreitar o sapato deixado junto do presépio e lá estava ele, rodeado
de prendas.
Seguia-se o ritual da abertura dos embrulhos, uma festa para
todos, em especial para os pais. O miúdo não percebia bem porquê, eram só brinquedos
para ele e para a irmã, mas parecia que os pais ficavam tão ou mais felizes do que
eles.
O Natal tinha assim uma magia que o miúdo não queria perder.
Mesmo quando a escola das brincadeiras de rua lhe ensinou que o menino Jesus
não existia e que eram os pais que lhe davam os brinquedos, o miúdo calou-se
bem calado e continuou como se nada soubesse.
Mas o avô José Francisco é que não estava muito satisfeito
com a situação.
– Um matulão e ainda acredita no menino Jesus? Não pode ser! – terá ele pensado. E assim que achou oportuno, perguntou de chofre:
– Ouve lá, tu ainda acreditas no menino Jesus? Claro que o miúdo não podia mentir, em especial àquele avô, e respondeu naturalmente:
– Não, mas tenho de fingir por causa dos meus pais.
– Um matulão e ainda acredita no menino Jesus? Não pode ser! – terá ele pensado. E assim que achou oportuno, perguntou de chofre:
– Ouve lá, tu ainda acreditas no menino Jesus? Claro que o miúdo não podia mentir, em especial àquele avô, e respondeu naturalmente:
– Não, mas tenho de fingir por causa dos meus pais.
O miúdo não sabe o que o marcou mais, se a expressão
de gozo do avô se a desilusão dos pais quando este lhes contou o que tinha
descoberto. O que sabe é que o Natal não voltou a ser o mesmo, apesar do
menino Jesus ter continuado a trazer brinquedos para a irmã mais nova.
Que saudades de quando os pais acreditavam no menino
Jesus!
Bela autobiografia.
ResponderEliminarEu também, tal como tu, AINDA vivo um pouco a minha própria "estória" dos meus Natais de criança, do sapatinho, do menino Jesus , das prendas recolhidas na madrugadas de 25 de Dezembro, sendo praticamente esta a minha actual participação das Festas do Natal, pois o meu neto já tem 24 anos e o meu filhos alguns mais.......
Mas gosto e tenho prazer em ver os outros a participar à sua maneira....
Vivamos assim à nossa maneira, O MELHOR POSSÍVEL e
BOAS FESTAS