Ao ouvir o primeiro-ministro e o presidente da República justificarem as medidas governamentais para minimizar os efeitos negativos da inflação nos rendimentos dos portugueses, lembrei-me de um texto que publiquei há seis anos no Facebook: Sinto que o debate ideológico sobre a união europeia é cada vez mais uma versão pobre das discussões inconsequentes entre Settembrini e Naphta no sanatório da Montanha Mágica de Thomas Mann. Receio que independentemente da simpatia que possam ter pelo humanismo de um ou pelo nacionalismo de outro, muitos dos jovens de hoje acabem como Castorp, o engenheiro naval de Hamburgo, arrastados para o “macabro baile” de um conflito europeu.
Tudo o que se passa hoje em Portugal e na Europa, incluindo o “macabro baile” de um conflito europeu e a consequente crise económica, depende da vontade de gente que não escolhemos democraticamente.
As políticas económicas adoptadas pelo governo de Portugal são determinadas ou condicionados por burocratas e políticos da união europeia que o PR classificou ontem como “radicais financeiros”. São eles que nos trouxeram até aqui, independentemente da vontade dos portugueses. Mas pouco ou nada falamos deles.
É como se concordássemos que tudo o que não conseguimos resolver hoje, pode ser explicado por um passado inventado ou ser resolvido num lugar imaginário a que chamamos futuro.
Consciente ou inconscientemente, ao esquecermos quem são os verdadeiros responsáveis pelo presente e que são eles que devem prestar contas, rejeitamos também a possibilidade de resolver o problema num tempo dilatado e denso, com gente dentro.
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