terça-feira, 17 de maio de 2022

"A vingança do chinês"


Sabe-se que a História não se repete, mas será tolo quem não aprender com ela, em especial quando se vivem situações semelhantes às do passado.

A declaração conjunta de Xi Jinping e Vladimir Putin do passado dia 4 de Fevereiro, a anunciar o que para os dois seria o fim da hegemonia dos EUA sobre os destinos do mundo, lembrou‑nos o acordo de Mao com Estaline em 1950.

Na altura Mao era o mais fraco, foi pedir a bênção de Estaline, meteu-se na guerra da Coreia e quem saiu por cima foi Estaline. Os detalhes do processo só foram conhecidos muitos anos mais tarde quando foram divulgados documentos secretos de um e outro lado, mas sabemos hoje que Mao se sentiu atraiçoado por Estaline e que essa traição envenenou as relações sino-soviéticas durante décadas.

As razões que levaram Estaline a fomentar a invasão da Coreia do Sul terão sido as que constam de uma carta de Agosto de 1950, só conhecida em 2005 : "envolver" os EUA numa guerra difícil e cara no extremo-oriente e "distrair" a sua atenção da Europa Oriental, a verdadeira preocupação de Estaline.‎

A resposta imediata de Truman e o empenhamento de forças norte-americanas e chinesas na guerra da Coreia, sem que os soviéticos se envolvessem directamente, permitiu que o objectivo de Estaline de distrair os seus concorrentes principias, os EUA e a China, tenha sido temporariamente atingido.

O que Estaline não previu foi que a NATO, que antes da guerra da Coreia era apenas uma ideia, se transformasse depois dela numa poderosa estrutura militar liderada pelos EUA. E também não previu que a China, setenta anos depois, se transformasse na potência que conhecemos.

Hoje, o mais fraco é Putin. Foi pedir ajuda a Xi Jinping, invadiu a Ucrânia, aparentemente convencido que poderia vencer uma guerra de agressão, o que actualmente é quase impossível. Os EUA responderam rapidamente e desta vez não se envolveram directamente. E a NATO, que estava moribunda, parece ter ressuscitado.

À semelhança do acordo entre Mao e Estaline, só daqui a muitos anos saberemos o que se passou antes e depois da declaração de 4 de Fevereiro. No entanto, arrisco a opinar que estamos a assistir à “vingança do chinês”, levada a cabo com frieza, setenta anos depois.

E, aparentemente, dos intervenientes principais, só Putin não terá aprendido com a História. Bem, Putin e os que continuam a acreditar em dirigentes políticos que os usam e sacrificam como material descartável, sem qualquer valor.

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