segunda-feira, 2 de março de 2020

Sardinhada em Monterey



Estes marinheiros, dois Jorge de sua graça, moravam em Monterey, num bairro de americanos bem-comportados. Os vizinhos eram muito simpáticos, convidavam, a eles e às famílias, para os regulares BBQ onde degustavam os tradicionais burgers, bebiam coke, jogavam soccer e eram todos felizes.

Só que o Carlos Jorge, setubalense de gema, não aguentava as saudades de uma sardinhada. O Jorge moçambicano era mais caril de marisco, mas o Carlos não resistiu. Um dia foram a San Jose e trouxeram um carregamento de sardinhas congeladas, naturalmente de Peniche. O Carlos montou o fogareiro e preparou tudo para a grande sardinhada.

Reza a história que os vizinhos, embora convidados para a festa, assim que sentiram os primeiros odores da preparação, trancaram-se em casa e só mostraram as caras zangadas através das janelas fechadas. Alguns ainda se aproximaram do pátio do Carlos para apresentarem a devida reclamação mas não resistiram à prova. E o Carlos, de tão concentrado que estava na função, como a imagem demonstra, não lhes deu atenção.

Uns tempos depois, durante a crise dos reféns na embaixada americana no Irão, os dois marinheiros passeavam na baixa de Monterey e foram confundidos com iranianos. Responderam naturalmente com uns palavrões ao convite de um grupo de americanos loiros para que regressassem à sua terra.

Mas apreciado o episódio a esta distância, os locais tinham razão: o imaculado ambiente da Califórnia não podia ser poluído por gente que fazia sardinhadas no pátio de casa.

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