domingo, 11 de setembro de 2022

11 de Setembro de 2001

 


A Maria João entrou no meu gabinete e disse-me:
- Sabe que um avião chocou com uma torre em Nova Iorque? 
Fiquei surpreendido, mas não dei muita atenção, tinha de me despachar para ir buscar o meu tio ao São José. No trajecto fui ouvindo a TSF e percebi que a coisa estava complicada.

Soube nos dias seguintes que o atentado causara cerca de três mil mortos e que era obra de uma organização fundamentalista islâmica fundada pelo milionário saudita Osama bin Laden, sem, no entanto, perceber o seu impacto no futuro do mundo.

Só um mês depois, com a invasão do Afeganistão para alegadamente encontrar Osama bin Laden e outros líderes da Al-Qaeda, destruir a organização e remover do poder o regime talibã, comecei a perceber a dimensão e a natureza do problema.
 
E melhor percebi quando em Março de 2003, contra a opinião pública mundial e os milhões de cidadãos que se manifestaram na rua em centenas de cidades de todo o mundo, os EUA, com o apoio militar do Reino Unido, da Austrália e da Polónia, e o apoio político de governos como o de Portugal e o de Espanha, invadiram o Iraque, alegadamente para desarmar todo o seu arsenal nuclear, químico e biológico, e derrubar o regime de Saddam Hussein, que apoiaria e financiaria grupos terroristas como a Al-Qaeda. Observei e senti na Florida o fervor patriótico e a euforia da população americana naquele mês de Março.

Nenhum dos pretextos para a invasão do Iraque se confirmou e descobrimos rapidamente que todo o processo de decisão se baseou numa enorme mentira que abalou seriamente os alicerces do mundo democrático.
 
É verdade que as centenas de milhares de civis mortos e os milhões de desalojados resultantes das invasões do Afeganistão e no Iraque, a descredibilização de regimes democráticos e das instituições internacionais, a institucionalização da mentira e do logro como forma de governo, o clima generalizado de insegurança pública, ocorreram na sequência do 11 de Setembro de 2001.
 
É também verdade que a invasão militar de países independentes como forma de resolver conflitos internacionais, como recentemente sucedeu na Ucrânia, passou a ser justificada por muitos com base nas invasões posteriores ao 11 de Setembro de 2001.

Mas a responsabilidade por tais ocorrências só marginalmente pode ser atribuída aos que fizeram os aviões chocar com as torres de Nova Iorque.

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Os responsáveis


Ao ouvir o primeiro-ministro e o presidente da República justificarem as medidas governamentais para minimizar os efeitos negativos da inflação nos rendimentos dos portugueses, lembrei-me de um texto que publiquei há seis anos no Facebook: Sinto que o debate ideológico sobre a união europeia é cada vez mais uma versão pobre das discussões inconsequentes entre Settembrini e Naphta no sanatório da Montanha Mágica de Thomas Mann. Receio que independentemente da simpatia que possam ter pelo humanismo de um ou pelo nacionalismo de outro, muitos dos jovens de hoje acabem como Castorp, o engenheiro naval de Hamburgo, arrastados para o “macabro baile” de um conflito europeu.

Tudo o que se passa hoje em Portugal e na Europa, incluindo o “macabro baile” de um conflito europeu e a consequente crise económica, depende da vontade de gente que não escolhemos democraticamente.

As políticas económicas adoptadas pelo governo de Portugal são determinadas ou condicionados por burocratas e políticos da união europeia que o PR classificou ontem como “radicais financeiros”. São eles que nos trouxeram até aqui, independentemente da vontade dos portugueses. Mas pouco ou nada falamos deles.

É como se concordássemos que tudo o que não conseguimos resolver hoje, pode ser explicado por um passado inventado ou ser resolvido num lugar imaginário a que chamamos futuro.

Consciente ou inconscientemente, ao esquecermos quem são os verdadeiros responsáveis pelo presente e que são eles que devem prestar contas, rejeitamos também a possibilidade de resolver o problema num tempo dilatado e denso, com gente dentro.

sábado, 3 de setembro de 2022

Legado


Alguém disse que as nossas conquistas interiores modificam a realidade exterior.
 
Não sei se é uma verdade universal, mas, no caso da minha Mãe, estou certo de que a sua força interior, a sua vontade de melhorar o mundo, a sua presença, fazem com a vida dos outros seja bastante melhor.
 
É esse o seu mais valioso legado aos bisnetos, a grande lição dos 95 anos de uma vida plena.