Senhor Almirante Comandante da Escola Naval,
Oficiais e Cadetes da Escola Naval,
Camaradas do Curso “Almirante Baptista de Andrade”,
Quiseram as circunstâncias que só hoje, quase dois anos
depois da data devida, seja possível celebrarmos os 50 anos do nosso curso na
Escola Naval.
Os que em 1970 transpuseram pela primeira vez a porta de
entrada da Escola Naval e se juntaram a alguns dos que entraram um ano antes,
formaram o curso “Baptista de Andrade”. O BA, ao longo de quatro anos, foi
evoluindo com novas entradas e várias saídas, mas manteve sempre o essencial do
que influenciou decisivamente o que cada um dos nós é hoje.
Frequentar a Escola Naval, mesmo que por um curto período de
tempo como aconteceu com alguns de nós, é um enorme privilégio. Mas frequentar
a Escola Naval integrado num curso como o BA foi um privilégio ainda maior e,
por isso, independentemente da data em que o fazemos, celebrar os 50 anos do
nosso curso, na Escola Naval e sem as restrições impostas pela pandemia, tem um
significado especial para todos e cada um de nós.
Por isso o nosso sentido agradecimento a todos os que hoje
servem e estudam na Escola Naval por nos propiciarem este momento. Um momento
que gostaríamos que seja tão relevante para os cadetes do curso "Chefe de
Divisão da Armada Lopes da Costa e Almeida" como foi para nós convivermos
com elementos do curso que celebrou o cinquentenário no nosso primeiro ano na
Escola Naval. Conhecer oficiais como o almirante Ramos Pereira, um exemplo como
oficial da Armada e cidadão, ou o engenheiro Eduardo Scarlatti, um mestre da
cultura, foi uma experiência marcante para os cadetes do BA.
Como não podia deixar de ser, o BA foi influenciado pelas
condições históricas do País e da Armada nos anos que precederam o 25 de Abril
de 1974. E essas condições muito particulares fizeram de nós os militares que
fomos e os cidadãos que somos.
Na Escola Naval contrariámos as praxes e todas as formas de
abuso. Queixámo-nos de um professor incompetente e requeremos a repetição da
cadeira por ter sido mal-ensinada. Contestámos a forma como eram realizados os
embarques de instrução. Alterámos práticas tradicionais, propondo alternativas
nos órgãos próprios. Quando discordávamos das ordens que recebíamos, cumpríamos
e depois apresentávamos queixa formal.
Cada um de nós aprendeu na Escola Naval a valorizar o rigor
e a liberdade de pensamento e acção. Aprendemos com oficiais e professores que
souberam transmitir os valores e os princípios que devem nortear a profissão de
oficial de Marinha. Aprendemos com os Comandantes Silvano Ribeiro, Oliveira
Lemos, Freire Montez e o Engenheiro Mesquita Dias, para lembrar alguns dos
melhores entre os melhores.
Quando saímos da Escola Naval e nos lançámos no turbilhão da
vida, uns mais cedo que outros, seguimos caminhos muito diversos. Mas todos
procurámos cumprir o melhor que sabíamos e podíamos, exactamente porque foi
isso que nos ensinaram na Escola Naval. Para além das competências
técnico-profissionais, ensinaram-nos a ser cidadãos, a fazer escolhas e a
respeitar as escolhas dos outros.
Nem sempre fomos compreendidos e alguns foram penalizados por assumirem posições que entendiam coerentes com os valores e princípios aprendidos na Escola Naval. Mas todos, na Marinha e fora dela, fomos respeitados como profissionais e como cidadãos, precisamente por reconhecerem em nós esses valores e esses princípios.
Cadetes da Escola Naval,
Nesta celebração dos 50 anos do curso “Baptista de Andrade”,
permitam que expresse um voto singelo: Que a passagem pela Escola Naval seja
para vós tão fundamental e enriquecedora como foi para nós.
Viva a Escola Naval!
Viva a Marinha!
Muito bem!
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