Facto de viver, de ter vida; existência. Experiência de vida. Processo psicológico consciente no qual o indivíduo adopta uma posição valorizante, sintética, que não é apenas passiva e emocional, pois inclui também uma participação intelectual activa. O conhecimento adquirido através da experiência vivida. Não é lido, não é contado, é experimentado.
sexta-feira, 25 de março de 2022
A ilha trágica
domingo, 6 de março de 2022
Recordação
Em 1975 e 1976 estive embarcado na corveta “António Enes” sob o comando
do Comandante Francisco Duarte Costa. Foi um período muito rico do ponto de vista profissional mas politicamente agitado,
primeiro no Continente e depois nos Açores.
Chegámos a Ponta Delgada na véspera da manifestação de 17 de
Novembro de 1975, em princípio uma reedição da manifestação de 6 de Junho. A informação que
tínhamos era que a FLA tencionava declarar a independência hasteando a bandeira
no palácio do governador. Depois de um Verão agitado no Continente, caímos no centro do movimento independentista que estava muito activo em São
Miguel e, em especial, em Ponta Delgada.
Embora os activistas da FLA, ou do que resta dela, ainda hoje digam que saíram para a rua umas 15 mil pessoas (no 6 de Junho teriam
participado 10 mil), os objectivos políticos não foram atingidos. A bordo da
corveta estávamos preparados para usar as mangueiras de incêndio como dissuasor
caso houvesse uma provocação, mas nada de extraordinário aconteceu para as
bandas do porto de mar.
Depois desta estreia atribulada, a agitação política em
Ponta Delgada foi acalmando e conseguíamos fazer uma vida quase normal sempre
que por lá passávamos. A guarnição tinha instruções para evitar dois cafés
frequentados por provocadores da FLA, o Lys e o Royal, para evitar confrontos, mas não me recordo de qualquer incidente grave.
Ultrapassados os poucos episódios desagradáveis em Ponta
Delgada (era o tempo das pichagens “Fragatas fora dos Açores”), aproveitávamos todos
os períodos em terra para conhecer as ilhas, as suas gentes e a sua cultura.
E hoje, quarenta e seis anos depois, o Comandante Duarte
Costa decidiu enviar-me a cópia de uma página do seu arquivo pessoal onde
aparece a foto de um passeio à Ribeira Grande, tirada pelo Ten. Ortigão Neves.
Para além do Comandante Duarte Costa à direita da foto, lá está o Imediato
Patrício Leitão a engraxar os sapatos e eu.
Magnífica recordação!
sábado, 5 de março de 2022
Compromisso
Embora os defensores da guerra falem cada vez mal alto e os apelos à negociação para obter a paz sejam cada vez mais considerados pelos milhares de especialistas formados em geopolítica nas redes sociais como apoios ao agressor, no caso o regime ditatorial de Putin, arrisco mais um texto para defender que é necessário e urgente um compromisso negociado entre os EUA e a Rússia.
Não sei como nem em que termos porque não tenho informação para isso mas sei que a História mostra que a alternativa à guerra total sempre foi a negociação e o compromisso entre os principais contendores. Como aconteceu, por exemplo, na crise dos mísseis de 1962.
Só mais tarde, já na década de 1970, percebi que a vitória de Kennedy só foi possível porque houve uma negociação secreta e um compromisso entre os líderes dos EUA e da então União Soviética. Os detalhes são bem conhecidos e por isso não entro neles, mas o que interessa salientar é que a iniciativa de Khrushchev foi uma resposta à instalação dos mísseis Jupiter com capacidade nuclear na Europa, em especial na Itália e na Turquia.
A primeira reacção dos falcões norte-americanos foi responder com um ataque a Cuba, se necessário nuclear, mas a administração Kennedy, embora fazendo o ultimato e impondo o bloqueio a Cuba, decidiu explorar a via da negociação e do compromisso.
Kennedy encarregou o irmão Robert de levar ao embaixador soviético em Washington a proposta de remoção dos mísseis Jupiter da Turquia, sem sequer informar este país, em troca da retirada das armas soviéticas de Cuba. Após um processo negocial secreto, Khrushchev aceitou o compromisso e o mundo respirou de alívio. Nunca tinha estado tão perto de um conflito nuclear!
No conflito da Ucrânia não sei qual é o compromisso possível entre os EUA e a Rússia mas estou convencido que ele deve ser procurado por todos os meios e é o único caminho, mesmo que estreito, para a paz.
Que me desculpem os meus amigos belicistas, mas o facto de não saltar convosco não faz de mim um apoiante de Putin. A única conclusão que podem tirar é que, tal como o Papa Francisco, entendo que a guerra é uma loucura e tudo deve ser feito para a evitar, mesmo negociar com o diabo.
quarta-feira, 2 de março de 2022
O pecado original
Como aconteceu com muitos da minha geração, a fase final da minha adolescência decorreu num período de grande agitação social e política, em que tudo era posto em causa. Era o tempo da descoberta de novas visões do mundo e da sociedade, o tempo das certezas inabaláveis.