Em Portugal estamos sempre com uma geração de atraso!
Fala-se de incêndios e ouço que são precisos vinte e tal anos para termos uma floresta que lhes resista. Fala-se da seca e dizem-me que leva mais de vinte anos a criar plantações de espécies e variedades que resistam à escassez de água e às pragas trazidas pelas alterações climáticas.
De facto a história do homem mostra que o progresso sustentável se faz continuamente com a transmissão do saber e da experiência de geração para geração. E assumindo que uma geração dura em média os cerca de 25 anos necessários para que o pai esteja em condições de ensinar o filho, esse deveria ser o ritmo do nosso progresso. Um progresso em harmonia com a natureza, em que cada geração aprende com a anterior, acrescenta valor ao que recebeu e transmite tudo à seguinte.
Tenho para mim que assim é nos países desenvolvidos. Lembro-me de olhar para o interior das cápsulas espaciais americanas e reconhecer detalhes técnicos de equipamentos de navios americanos construídos no pós-guerra. Lembro-me de encontrar nas fragatas MEKO do final da década de 80, equipamentos e acessórios que conhecia das corvetas construídas na Alemanha na década de 60. A maioria dos sucessos empresariais nesses países resultam do esforço continuado de geração após geração, mesmo quando ocorrem alterações profundas na propriedade e no modo de operação dos meios de produção.
O desenvolvimento de um país faz-se por um processo contínuo de consolidação do que funciona e de inovação do que deve ser alterado ou recriado. A História mostra que não se faz com mudanças sociais e económicas abruptas que se tornam inevitáveis porque não se inovou e se mantiveram práticas erradas ou, mais frequentemente, porque são instrumento de poder. Em regra nessas mudanças, muitas vezes inspiradas em casos de sucesso noutras paragens, perde-se o que devia ser preservado e nem sempre os novos protagonistas têm o saber e a experiência para criar uma alternativa sustentável e adequada para as condições locais.
Infelizmente e salvo raras excepções, em Portugal prevalecem as mudanças abruptas e as rupturas nas organizações e entre gerações. É por isso que cada geração erra mais do que acerta e estamos sempre com, pelo menos, uma geração de atraso!
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