quinta-feira, 31 de julho de 2014

A Lição da Bicicleta

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Ensinou-a a andar de bicicleta, lembra-se?

Claro que sim, todos o sabemos mas eu senti vontade de perguntar porque viver é recordar.
A Joana ia fazer quatro anos, a Catarina estava quase a nascer e os avós não podiam perder eventos tão importantes. Só havia uma solução: voar 10 mil quilómetros até Monterey, custasse o que custasse!
E de facto custou uma mala cheia de prendas, desaparecida sem deixar rasto na trapalhada que se seguiu à desregulamentação da aviação comercial americana e que culminou com a greve e paragem total da United Airlines durante quase dois meses.

Mas como a menina não podia ficar sem uma boa prenda, os avós foram comprar uma bicicleta. E claro, uma bicicleta para durar, até porque o pai também tinha aprendido numa roda 26. A Joana, que estava num percentil elevado, parecia um mosquito em cima dela. Foi preciso instalar uns grossos calços de madeira para chegar aos pedais!
E como ter uma espileca e não saber andar nela não fazia sentido, lá foram, avô e neta, treinar para o pátio da La Mesa Elementary School, perto da nossa casa. E sem rodinhas, só com o avô a correr atrás da espileca.

Corria tudo muito bem porque o espaço era amplo e a Joana tinha um bom equilíbrio. A espileca rolava, mais ou menos a direito, e o avô e a neta sentiam-se cada vez mais entusiasmados.
Não fosse um poste solitário, plantado no meio de nada, e a manhã não teria história. Mas a lei da atracção universal aplicada ao pátio da escola de La Mesa fez com que a espileca se dirigisse para o poste solitário, contra todas as probabilidades e sem fazer caso dos gritos e dos esforços do avô!
Resultado: um grande trambolhão e perda de um incisivo central superior!
Mas apesar do choque e do berreiro, o avô não hesitou. Lavou a boca da neta com água fria até estancar o sangue, sentou-a de novo no alto da espileca e o treino continuou, como se nada se tivesse passado!
Não sei o que os manuais de pedagogia infantil dizem sobre estas situações mas sei que a Joana voltou para casa a conduzir a espileca, sem ajuda, segura e orgulhosa da sua nova capacidade e com um troféu na mãozita: o dente de leite cujo buraco só foi preenchido um bom par de anos mais tarde!


É esta, e muitas outras lições como esta, que reconheço na relação entre o avô Aníbal e a neta Joana. Por isso senti vontade de perguntar:
Ensinou-a a andar de bicicleta, lembra-se?

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