O Miguel telefonou e pediu: — Gostava de ter conhecido o teu Pai... conta uma história do teu Pai.
— Está bem, mas o meu Pai contou-me tantas histórias que não sei por onde começar... Deixa-me pensar… Talvez possa começar por uma que se passou numa terra muito longe, onde ele e eu nascemos, quando o meu Pai tinha mais ou menos a tua idade.
Um dia, um amigo trouxe três embrulhos, três prendas para os três irmãos. O meu Pai era o mais novo e por isso foi o primeiro a escolher. Sem hesitar, escolheu o embrulho maior, devia ser o melhor brinquedo! Era uma cadeira com uma ovelha a fingir que puxava e três rodas: duas grandes atrás e uma pequena à frente. Um triciclo com pedais seria melhor, mas mesmo assim ficou contente.
O problema foi quando se sentou no brinquedo. A ovelha levantou-se no ar, a cadeira caiu para trás e o meu Pai bateu com a cabeça no chão! Sentou-se de novo, com mais cuidado, mas passado um bocado caiu outra vez para trás. Não havia nada a fazer, o brinquedo era assim... Não era defeito, era feitio…
Deixou de brincar com a cadeira da ovelha até que um dia os três irmãos foram tirar uma fotografia. Vestiram-se para a ocasião e o fotógrafo arranjou um grande brinquedo para os mais velhos. Para o mais novo foram buscar a cadeira da ovelha e sentaram-no, contrariado.
Para a posteridade ficou a foto dos três irmãos, com o mais novo na cadeira da ovelha, com cara de poucos amigos, à espera de cair para trás! Muitos anos depois, o meu Pai mostrou-me a fotografia e contou-me a história da cadeira da ovelha. E explicou-me porque é que estava com aquela cara:
— Não gostava do brinquedo. Foi castigo por ter escolhido o embrulho maior!