Facto de viver, de ter vida; existência. Experiência de vida. Processo psicológico consciente no qual o indivíduo adopta uma posição valorizante, sintética, que não é apenas passiva e emocional, pois inclui também uma participação intelectual activa. O conhecimento adquirido através da experiência vivida. Não é lido, não é contado, é experimentado.
segunda-feira, 27 de julho de 2020
A lutadora
quarta-feira, 22 de julho de 2020
Avós paternos
Ao contrário do que muitos pensarão, até ao final da década de 1940 não houve uma migração significativa de portugueses para Moçambique. Apesar da pressão internacional, a partir do final do século XIX, para que Portugal ocupasse efectivamente as colónias que detinha em África, poucos indivíduos ou famílias tentaram a sua sorte naquela que era à época uma das menos desenvolvidas.
Quem estudou a colonização portuguesa de Moçambique estima que terão sido menos de 50 mil até meados da década de 1950, sendo o grosso constituído por militares e funcionários públicos administrativos em missão de serviço, administradores e quadros das concessionárias ou membros de qualquer outro grupo beneficiário do sistema colonial, com as suas famílias, a maioria dos quais com bilhete de ida e volta da Metrópole. Em 1960, a população branca recenseada em Moçambique não atingia os 100 mil. Até então a migração económica de sobrevivência dos portugueses era feita essencialmente para as Américas e, menos significativa, para as colónias da costa ocidental de África.
Mas apesar das condições precárias da colónia, alguns portugueses, em especial das zonas mais desfavorecidas do país, optaram por Moçambique na busca de uma vida melhor. Foi o que fizeram, quatro anos antes da primeira Grande Guerra, dois jovens madeirenses recém-casados, a Maria Isabel Jardim da freguesia do Arco de São Jorge no norte da ilha e o António Jorge Bettencourt da freguesia de Gaula. E por lá ficaram até ao fim das suas vidas.
Tiveram cinco filhos. A mais velha, faleceu aos dez anos na primeira viagem que fizeram a Portugal, por navio, pelo Canal do Suez. Os outros quatro − Rui, António, Aníbal e Jorge −, estão com eles nesta fotografia do final da década de 1940. O meu Pai é o do meio, na segunda fila.
sexta-feira, 17 de julho de 2020
“E o que é que foi que ele disse?”
Não foi fácil mas finalmente acabei a leitura da Visão
Estratégica para o plano de recuperação económica e social de Portugal
2020-2030 do consultor do Governo, António Costa Silva. Antes de qualquer
outra consideração, devo dizer que se a elaboração do documento foi uma tarefa
cívica desempenhada "pro bono", o esforço merece ser elogiado. Não é
todos os dias que encontramos um cidadão disponível para dar o seu contributo
desinteressado nesta área.
No entanto, como referência estratégica para um plano de
recuperação económica e social do nosso país, o documento fica muito aquém do
que esperava. Repete até à exaustão uma série de ideias e termos mais ou menos
na moda (digitalização, descarbonização, transição energética,
“reindustrialização”, “cluster”, “hub”, “smart” qualquer
coisa, etc.) mas com muito pouco sumo para tantas páginas.
Para só referir dois sectores que conheci bem, o mar e as
indústrias de defesa, não encontrei nada de novo no documento, antes pelo
contrário. O autor parece não ter aprendido nada com o que se passou nos
últimos vinte anos e repete um discurso político que vi ser tragicamente
desmentido pela acção dos responsáveis. Provavelmente será uma coincidência,
mas até o discurso dos “campeões globais” e das empresas tecnológicas maravilha
veio à baila… Se há vinte anos ainda acreditei que fizesse algum sentido, hoje
parece-me patético.
Mas o que menos gostei no documento foi a ligeireza com que
aborda os dois problemas centrais de Portugal: a justiça e a educação. Sobre o
primeiro não chega escrever que “Portugal precisa de uma justiça, em particular
a justiça económica e fiscal, orientada para o século XXI,” e sobre o segundo
não chega dizer que é preciso investir na “requalificação e modernização da
rede de escolas” (onde é que já ouvi isto?) e no “rejuvenescimento do corpo
docente”.
Para quem como eu acredita que as escolas públicas são as
instituições que mais podem contribuir para a democratização da sociedade e
para o combate às desigualdades económicas e sociais, o que o autor escreveu
trouxe-me à memória os versos de Sérgio Godinho:
“E o que é que foi que ele disse?
E o que é que foi que ele disse?
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco.”